quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Deus, Espirito, Materia - Espiritismo "Uma Nova Era Para a Humanidade"


Informações Úteis

Deus, Espírito, Matéria


"Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas"

1. DEUS — provas da sua existência e atributos
a) Provas da existência de Deus
A prova da existência de Deus encontra-se nesta máxima: "Não há efeito sem causa". Há uma imensidade de efeitos, cuja causa está acima da humanidade. Esses efeitos não se produzem ao acaso, pois do mais pequenino insecto ou semente até à lei que rege os mundos que circulam no espaço tudo atesta uma causa soberanamente inteligente.
Partindo-se do princípio de que todo o efeito inteligente decorre de uma causa inteligente, e não encontrando essa causa na humanidade, ela deve decorrer de uma inteligência superior, quer chamemo-la pelos nomes de Deus, Jeová, Alá, etc.
Há um provérbio que diz: "Pela obra se reconhece o autor!". Deus não se mostra, mas revela-se pelas suas obras.
O Universo não pode ter como causa primária o acaso, nem as propriedades íntimas da matéria, que também tiveram uma causa. O acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes. Um acaso inteligente já não seria acaso. Duvidar da existência de Deus é negar que todo o efeito tem uma causa e aceitar que o nada pode fazer alguma coisa.
O homem não poderá perceber Deus com os órgãos materiais, que não são próprios para perceber a essência das coisas. Somente pela alma poderá ter a percepção de Deus. Porém, os espíritos esclarecem que a visão de Deus é uma faculdade das almas purificadas.
b) Atributos da Divindade
O homem não pode perceber a natureza íntima de Deus porque lhe falta os sentidos próprios, que se adquire pela completa depuração espiritual.
Todavia, se não pode penetrar na essência de Deus, desde que aceite a sua existência, pode o homem, pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os atributos necessários, porquanto, vendo o que ele absolutamente não pode ser, sem deixar de ser Deus, deduz-se daí o que ele deve ser.
Sem compreender os atributos de Deus impossível seria compreender a obra da criação. É por não se ter baseado nisso que a maioria das religiões errou. As que não lhe atribuíram a onipotência imaginaram muitos deuses, as que não lhe atribuíram a soberana bondade fizeram-no um Deus ocioso, colérico, parcial e vingativo.
Na infância da humanidade o homem confunde-o com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; à medida que nele se desenvolve o senso moral, penetra melhor a essência das coisas e faz ideia mais justa da Divindade, ainda que incompleta, porém mais conforme à sã razão.
Conforme a doutrina espírita, os atributos de Deus são os seguintes: Deus é a suprema e soberana inteligência; é eterno; infinitamente perfeito; é imutável; é imaterial. Deus é único, omnipotente, soberanamente justo e bom.
Em filosofia, em moral, em religião, só há de verdadeiro o que não se afaste, nem um til, das qualidades essenciais da Divindade. Toda a crença, teoria, princípio ou dogma que estiver em contradição com um só desses atributos, que tenda, não tanto a anulá-lo, mas simplesmente a diminuí-lo, não pode estar com a verdade.
2. O PRINCÍPIO DAS COISAS - espírito e matéria
a) Conhecimento do princípio das coisas
Deus não permite que tudo ao homem seja revelado neste mundo. Assim, não lhe é dado conhecer o princípio das coisas. À medida que se depura é que o véu das causas primeiras se levanta a seus olhos, pois para compreendê-las são necessárias faculdades que ainda não possui.
Pela ciência pode o homem penetrar alguns dos segredos da natureza; porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu.
Se julgar conveniente, Deus pode revelar ao homem o que à ciência ainda não é dado compreender. É assim que ele recebe comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos, e por meio das quais adquire, dentro de certos limites, o conhecimento do seu passado e do seu futuro.
O princípio das coisas, todavia, reside nos segredos de Deus. Com respeito a tudo que ele não julgou conveniente revelar-nos, apenas se podem erguer sistemas, mais ou menos prováveis.
b) Espírito e matéria
A matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce a sua função.
O espírito é o princípio inteligente do universo. A natureza íntima do espírito, porém, não é fácil de ser analisada com a nossa linguagem, por não podermos apreciá-la com os sentidos.
A inteligência é um atributo essencial do espírito, de modo que para nós são uma e a mesma coisa.
O espírito e a matéria são elementos distintos, mas a sua união é necessária para "intelectualizar" a matéria. O homem não possui uma organização apta a perceber o espírito sem a matéria. Entende-se aqui por espírito o princípio da inteligência, abstração feita das individualidades que por esse nome se designam. Pode-se conceber o espírito sem a matéria, e esta sem o espírito, pelo pensamento.
Há dois elementos gerais do universo: a matéria e o espírito; e acima de tudo Deus, o criador, pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe.
Ao elemento material, todavia, tem que se juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria, propriamente dita, por demais grosseira para que o espírito possa atuar sobre ela.
O fluido universal distingue-se da matéria por propriedades especiais; é fluido susceptível, pelas suas inúmeras combinações com a matéria e sob a ação do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas, de que apenas conhecemos uma parte mínima. Sem esse elemento primitivo ou universal, a matéria estaria em perpétuo estado de divisão, e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.
A matéria, como a entendemos, é ponderável, mas, considerada como fluido do universo, é etérea, subtil e imponderável. Daí a gravidade ser uma propriedade relativa. Fora das esferas de atração dos mundos não há peso, como não há alto nem baixo.
O espaço universal é ilimitado. Abrange a infinidade dos mundos que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espaço, assim como os fluidos que o enchem. A razão leva-nos a concluir que o universo não pode ter-se formado por si mesmo, nem por obra do acaso, mas que é obra de Deus.

3. FORMAÇÃO DOS SERES VIVOS - princípio vital
a) Formação dos seres vivos
Houve tempo em que não existiam seres vivos na Terra; logo eles tiveram um começo. Cada espécie foi aparecendo na proporção em que o globo adquiria as condições necessárias à existência delas.
A Terra continha os germes dos seres vivos, que aguardavam momento favorável para se desenvolverem. Os princípios orgânicos se congregaram, desde que cessou a actuação da força que os mantinha afastados, e formaram os germes de todos os seres vivos, germes estes que permaneceram em estado latente de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até ao momento próprio do aparecimento de cada espécie. Os seres de cada uma destas se reuniram, então, e se multiplicaram, submetendo-se às leis de selecção natural.
Os elementos orgânicos antes da formação da Terra achavam-se no estado de fluido no espaço, no meio dos espíritos, ou em outros planetas, à espera da criação da Terra para começarem a existência no novo globo.
A espécie humana encontrava-se entre os elementos orgânicos contidos no Globo terrestre e veio a seu tempo. Quanto à época do aparecimento do homem e dos outros seres vivos na Terra, todos os cálculos humanos são quiméricos.
O homem surge em muitos pontos do globo e em várias épocas, o que também constitui uma das causas da diversidade das raças, além dos factores do clima, da vida e dos costumes.
b) O princípio vital
Os seres orgânicos são os que têm em si uma fonte de actividade íntima, que lhes dá a vida. Nesta classe estão os homens, os animais e as plantas. Seres inorgânicos são todos os que carecem de vitalidade, de movimentos próprios e que se formam apenas pela agregação da matéria, como os minerais, a água, o ar, etc.
A força que une os elementos da matéria nos corpos orgânicos e inorgânicos é a mesma. A matéria que os compõe também é a mesma, porém, nos corpos orgânicos está animalizada, pela sua união com o princípio vital.
A vida é um efeito devido à acção de um agente sobre a matéria, que é o princípio vital. Esse agente, sem a matéria, não é a vida, do mesmo modo que a matéria não pode viver sem esse agente. Ele dá vida a todos os seres que o absorvem e assimilam.
O princípio vital tem por fonte o fluido universal. É o que chamamos fluido magnético ou fluido eléctrico animalizado. É o intermediário existente entre o espírito e a matéria. Ele é um só para todos os seres vivos, modificado segundo as espécies.
A actividade do princípio vital é alimentada durante a vida pela acção e funcionamento dos órgãos. A causa de morte dos seres orgânicos é o esgotamento dos órgãos. A morte cessa aquela acção e o princípio vital extingue-se, mas o seu efeito sob o estado molecular do corpo subsiste mesmo depois dele extinto, como uma carbonização da madeira permanece depois de extinto o calor.
Morto o ser orgânico, os elementos que o compõem sofrem novas combinações, de que resultam novos seres, os quais haurem na fonte universal o princípio da vida e da actividade, o absorvem e assimilam, para novamente o restituírem a essa fonte, quando deixarem de existir.
A quantidade de fluido vital não é absoluta em todos os seres orgânicos. Varia segundo as espécies e não é constante, quer em cada indivíduo quer nos indivíduos de uma espécie. Alguns se acham saturados dele, enquanto outros o possuem em quantidade apenas suficiente.
A quantidade de fluido vital esgota-se se não for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que contém e pode tornar-se insuficiente para a conservação da vida.
O fluido vital pode ser transmitido de um indivíduo que o tiver em maior porção a outro que o tenha a menos e, em certos casos, prolongar a vida prestes a extinguir-se.
ANOTAÇÕES E INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
(1) Allan Kardec, A GÉNESE, cap. II e X, 18.ª edição (popular), 1976, Federação Espírita Brasileira.
(2) Allan Kardec, OBRAS PÓSTUMAS, 1.ª parte, §1º, §3º, 13.ª edição, Federação Espírita Brasileira.
(3) Barbosa, Pedro Franco, ESPIRITISMO BÁSICO, 2.ª parte, 1.ª edição, 1976, Editado pelo Centro Brasileiro de Homeopatia, Espiritismo e Obras Sociais - CBHEOS.
(4) Allan Kardec, O LIVRO DOS ESPÍRITOS, 1.ªparte, cap. I, II, III e IV, 33.ª edição, 1974, Federação Espírita Brasileira.
(5) Cardozo, José Soares, ONDE ESTÁ DEUS?, 1976, São Paulo, Editora Tempos Novos, Lda.
(6) Mínimus, NOÇÕES DE FILOSOFIA ESPÍRITA, 2.ª Edição, Federação Espírita Brasileira.
(7) Emmanuel, A CAMINHO DA LUZ, psicografia de Francisco Cândido Xavier, cap. II, 5.ª edição, Federação Espírita Brasileira. "


Fonte: Federação Espirita Brasileira
site:
www.febnet.org.br/



Conheça o Espiritismo
"UMA NOVA ERA PARA A HUMANIDADE
DEUS, INTELIGÊNCIA SUPREMA, CAUSA PRIMEIRA DE TODAS AS COISAS
JESUS, O GUIA E MODELO
KARDEC, A BASE FUNDAMENTAL ·
O LIVRO DOS ESPÍRITOS · O LIVRO DOS MÉDIUNS · O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO · O CÉU E O INFERNO. A GÊNESE “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO”
Conselho Espírita Internacional
O material apresentado abaixo, em 11 diferentes idiomas, faz parte da
Campanha de Divulgação do Espíritismo, feita pelo CEI – Conselho Espírita Internacional
em parceria com instituições espíritas de diversos países.
Os folhetos originais podem ser encontrados no site do CEI (http://www.spiritist.org/).

DOUTRINA ESPÍRITA ou ESPIRITISMO

O que é Espiritismo?

É o conjunto de princípios e leis, revelados pelos Espíritos Superiores, contidos nas obras de Allan Kardec, que constituem a Codificação Espírita: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.
É o Consolador prometido, que veio, no devido tempo, recordar e complementar o que Jesus ensinou, "restabelecendo todas as coisas no seu verdadeiro sentido", trazendo, assim, à Humanidade as bases reais para sua espiritualização.


O que revela?

Revela conceitos novos e mais aprofundados a respeito de Deus, do Universo, dos Homens, dos Espíritos e das Leis que regem a vida.
Revela, ainda, o que somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o objetivo da existência terrena e qual a razão da dor e do sofrimento.


Qual a sua abrangência?

Trazendo conceitos novos sobre o homem e tudo o que o cerca, o Espiritismo toca em todas as áreas do conhecimento, das atividades e do comportamento humanos.
Pode e deve ser estudado, analisado e praticado em todos os aspectos fundamentais da vida, tais como: científico, filosófico, religioso, ético, moral, educacional, social.


O que o Espiritismo ensina?
Pontos fundamentais:

Deus é a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas. É eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
O Universo é criação de Deus. Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais.
Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados (Homens), existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados.
No Universo há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus de evolução: iguais, mais evoluídos e menos evoluídos que os homens.
Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais.
O homem é um Espírito encarnado em um corpo material. O perispírito é o corpo semimaterial que une o Espírito ao corpo material.
Os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo.
Os Espíritos são criados simples e ignorantes, evoluem intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade.
Os Espíritos preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação.
Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento.
Os Espíritos evoluem sempre. Em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu progresso, intelectual e moral, depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.
Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição a que tenham alcançado: Espíritos Puros, que atingiram a perfeição máxima; Bons Espíritos, nos quais o desejo do bem é o que predomina; Espíritos imperfeitos, caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões inferiores.

As relações dos Espíritos com os homens são constantes, e sempre existiram. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os imperfeitos nos impelem para o mal.

Jesus é o guia e modelo para toda a Humanidade. E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus.
A moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela humanidade.
O homem tem o livre-arbítrio para agir, mas responde pelas conseqüências de suas ações.
A vida futura reserva aos homens penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus.
A prece é um ato de adoração a Deus. Está na lei natural, e é o resultado de um sentimento inato do homem, assim como é inata a idéia da existência do Criador.
A prece torna melhor o homem. Aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assistí-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade.

Prática Espírita

Toda a prática espírita é gratuita, dentro do princípio do Evangelho: "Dai de graça o que de graça recebestes".
A prática espírita é realizada sem nenhum culto exterior, dentro do princípio cristão de que Deus deve ser adorado em espírito e verdade.
O Espiritismo não tem corpo sacerdotal e não adota e nem usa em suas reuniões e em suas práticas: paramentos, bebidas alcóolicas, incenso, fumo, altares, imagens, andores, velas, procissões, talismãs, amuletos, sacramentos, concessões de indugência, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais, búzios, rituais, ou quaisquer outras formas de culto exterior.
O Espiritismo não impõe os seus princípios. Convida os interessados em conhecé-lo a submeter os seus ensinos ao crivo da razão antes de aceitá-los.
A mediunidade, que permite a comunicação dos Espíritos com os homens, é um dom que muitas pessoas trazem consigo ao nascer, independentemente da diretriz doutrinária de vida que adote.
Prática mediúnica espírita só é aquela que é exercida com base nos princípios da Doutrina Espírita e dentro da moral cristã.
O Espiritismo respeita todas as religiões, valoriza todos os esforços para a prática do bem, trabalha pela confraternização entre todos os homens independentemente de sua raça, cor, nacionalidade, crença ou nível cultural e social, e reconhece que "o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza".


"Nascer, morrer, renascer, ainda, e progredir sempre, tal é a lei."

"Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade."

"Fora da caridade não há salvação."

O estudo das obras de Allan Kardec é fundamental para o correto conhecimento daDoutrina Espírita.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009


Evocações a respeito de Espíritos de animais






"Achei muito interessante está matéria e resolvi postar aqui no meu blog.
Espero que gostem e reflitam sobre o assunto.
Evocações a respeito de Espíritos de animais
Grupo Espírita Bezerra de Menezes
Recebidas no Grupo Espírita Bezerra de Menezes e Sociedade de Estudos Espíritas Allan Kardec.

Evocação nº 01Espírito: São Luís
Sociedade de Estudos Espíritas
Allan KardecData: 30.03.99

Pergunta: Existem animais na erraticidade?

“Analisemos a questão. Sabeis através dos estudos realizados e dos ensinamentos deixados pelas Entidades Superiores que trabalharam no advento do Consolador, que as almas dos animais não têm utilidade e nem razão de ser no mundo espiritual mais elevado. Entretanto, nas colônias transitórios próximos ao vosso orbe eles são encontrados e têm a utilidade parecida com a encontrada na Terra. Razão pela qual encontram-se relatos de cantos de pássaros, bem como de latidos de cães e caravanas de animais que a vós vos parece tão familiar. Certamente que tudo regido pelas leis de Deus e vontade dos Espíritos que trabalham em Seu nome”.
Sabeis que as colônias transitórias são como uma projeção mais bem elaborada de vossa morada terrena e tudo o que nela existe tem alguma correlação também alhures, inclusive nos planos astrais mais inferiores. Entendei, porém, que tudo se dá em outra dimensão. Não têm, portanto, a mesma importância que se dá aos eventos da carne. Deveis compreender que a Codificação foi elaborada visando moradas mais elevadas onde não mais existem ambientes materializados como se encontram nas colônias e mundos semelhantes. Moradas, onde os Espíritos já atingiram um grau superior de adiantamento moral. É a esta situação que as obras primeiras se referem. Foi a esse respeito que o Espírito de Verdade deixou instrução.
Vosso pouco conhecimento vos torna embotados ao ensino mais profundo do que é a Verdade. Buscai na humildade e na sinceridade a chave para adentrar num campo mais afortunado do aprendizado e vereis que conheceis muito mais do que pensais, pois os Espíritos do Senhor buscam aqueles que, de boa-vontade e de coração aberto, têm a sede sincera do saber" – São Luís.

Evocação nº 02Espírito:
ErastoGrupo Espírita Bezerra de Menezes
São José do Rio Preto, SPData: 02.04.99

Evocação de um Espírito instrutor para falar sobre os Espíritos de animais
Aqui estou para auxiliardes dentro dos meus conhecimentos sobre o tema pretendido.
Poderíeis nos esclarecer se os animais possuem erraticidade e se mantêm suas individualidades?
Sim, eles possuem certa erraticidade, pois suas individualidades são mantidas após a morte do corpo físico. Porém, é necessário compreenderdes que não se pode considerar seu estado como aquele que passam os Espíritos dos homens. São duas condições diferentes. Numa, o Espírito tem inteligência e vida moral. Noutra, apenas os rudimentos da inteligência e completa inconsciência de si mesmos. Os primeiros aguardam a reencarnação para expiar o passado delituoso. Os segundos, apenas um novo corpo para seguirem desenvolvendo-se no processo que lhes é próprio.
Poderíeis nos explicar melhor esta diferença?

Um deles, o Espírito do homem, encontra-se em determinada região do plano espiritual devido a sua condição moral, que determina a posição na hierarquia espiritual. O outro, o espírito do animal, é projetado após o desencarne em regiões apropriadas ao seu grau de evolução. Como não possuem as mesmas condições mentais, ou seja, de estrutura psicológica, não podem ocupar a mesma situação no mundo dos Espíritos.
Mas, o mundo espiritual não é semelhante ao mundo terreno?
Depende do que se entende pela palavra "semelhante". Determinadas regiões astrais são muito parecidas com a superfície terrena e elas freqüentemente abrigam Espíritos de homens e de animais. Mas não na mesma faixa vibratória. Quando encarnados, eles vivem na mesma dimensão devido, o aprisionamento que o corpo lhes proporciona, mas, uma vez libertos da matéria, cada um é atraído para as regiões que lhes são próprias. Não deveis fazer confusão entre esses dois estados. Quando desencarnados, não vereis a Jesus, pois entre vós e Ele há umas diferenças vibratórias considerável, determinadas pela alta condição moral e intelectual do seu Espírito. Os animais estão para os Espíritos dos homens, assim como os homens vulgares estão para o espírito do Senhor. Pensai e entendereis.
Mas os Espíritos de animais podem ser vistos em regiões denominados colônias espirituais?
Sim, eles podem ser vistos em ambientes que se delimitam com as regiões astrais onde suas almas estacionam, numa espécie de erraticidade, aguardando serem conduzidos por Benfeitores dedicados à tarefa de os transportar à experiência carnal.
Mas, já se ouviu dizer que alguns Espíritos de animais são utilizados em caravanas socorristas feitas em regiões umbralinas. Isso é verdade?
Sim, esses Espíritos de animais podem ser guiados por entidades esclarecidas de modo a procederem de determinada maneira. Mas sua ação no plano invisível limita-se a certas faixas vibratórias e à vontade desses Espíritos que lhes impõem o desejo à vontade.
Eles sabem que estão fazendo um serviço junto a outros Espíritos?
Como vos foi dito. Animais são sempre animais. Não possuem consciência de que agem por vontade de Entidades superiores.
Mas, sem a ação dessa vontade superior, como ficaria o Espírito desses animais?
Estacionados nas faixas que lhes são inerentes, aguardando seu renascimento na matéria; um tempo que poderá ser mais ou menos longo, conforme o plano dos Espíritos diretores do orbe.
Tem-se ouvido falar que em regiões trevosas Espíritos de animais ferozes e de aparência horripilantes, aparecem a visitantes que "viajam" a essas regiões. Como pode ser isso? Esses Espíritos são verdadeiros?
Pensais e encontrareis a resposta facilmente. Como determinar se o Espírito de um animal é bom ou mal, se ele não tem vida moral? Qual lei determinaria sua situação no plano invisível, se ele não pensa ou se conduz por atos morais? Assim, podeis compreender que tais formas horrendas, que atormentam almas ou Espíritos que vão a estas regiões são, em verdade, Espíritos maus transfigurados, ou projeções mentais provocadas por eles. Já afirmamos e repetimos: As formas espirituais que animam os animais e as plantas, possuem cada uma, as faixas vibratórias das "regiões espirituais" que lhes são apropriadas. Nos mundos transitórios, "as colônias", só são observadas tais formas caso esses ambientes estejam em relação direta com essas faixas. De outro modo, plantas ou animais que ali são vistos são produtos das projeções mentais de Espíritos superiores que cuidam de administrar esses lugares reservados a desencarnados a caminho da luz.
Os Espíritos afirmaram na Codificação que as formas espirituais que animam os animais são utilizadas quase que imediatamente para novas reencarnações. Que tendes a dizer a respeito?
Afirmo-vos que as coisas não se passam tão rapidamente como imaginam. Considerai que o tempo entre o plano material e espiritual possui significativa diferença. Já não foi dito que um ano para Deus é mil anos para os homens? Pensais e obtereis a resposta.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O Caso Shanti Devi

Um caso de Reencarnação 

O Regresso de Uma Mulher que Morreu de Parto - Jane Sherrod Singer

Nenhum caso moderno de reencarnação tem sido mais examinado do que este renascimento de uma jovem indiana. É um exemplo clássico da tradição hindu se fazendo sentir nos tempos modernos. A autora é formada em psicologia pela Universidade da Califórnia.
“A velha Índia, a terra em forma de coração de belas mulheres vestidas de sari e belos homens com suas camisas brancas sem colarinho, combinadas com os folgados dhotis, tem, como parte integrante de suas crenças religiosas, a doutrina da reencarnação. Os hindus vêem o tempo não como um rio correndo, mas como um lago. Ondas ou ondulações podem aparecer, mas o lago permanece imutável, para todo o sempre.
A casta em que cada um nasce, dizem eles, é o resultado de uma vida passada, e cada um renascerá em uma vida futura de acordo com o seu comportamento nesta vida. Os hindus aceitam esses fatos com a mesma confiança com que esperam o amanhecer de um novo dia. Foi, no entanto, um choque para eles, e para todo o mundo, quando encontraram em Shanti Devi a possível prova dessa parte da filosofia intangível do hinduísmo.
Shanti Devi nasceu em 1926, na antiga capital da nação, Delhi. O acontecimento foi alegre, mas não espetacular. Shanti não desceu nas costas de um pavão, como Sarasvati, deusa das artes criativas, nem foi trazida, como Parvati, por Siva cavalgando um touro.
Sua família era remediada, mas nem de longe rica como os marajás. Durante os primeiros anos de vida, Shanti não foi mais que uma criancinha bonita e querida. Engatinhou, aprendeu a andar e a falar.
Quando chegou à idade de três anos, seus pais se divertiam muito porque, repetidamente, ela falava a respeito de seus maridos e seus filhos.
- Ela vai se casar cedo - brincou o pai - Precisamos ir preparando o dote. Até já comprei uma pulseira de ouro para o dia das bodas.
- Fico muito satisfeita com o que ela diz, pois é uma prova que vê que somos felizes, e quer ter uma vida igual à nossa - observou a mãe.
À medida que iam passando os meses, Shanti falava cada vez mais sobre o “marido” e os “filhos”. Sua teimosia em se apegar àquilo, em vez de se interessar pelos assuntos que dizem respeito às criancinhas, acabou preocupando os pais.
- Quem é esse marido de quem você tanto fala? – perguntou-lhe a mãe.
- O nome do meu marido é Kedarnath – respondeu a menina, sem hesitação. – Ele mora em Mutra. A nossa casa é de estuque amarelo, com enormes portas em arco e janelas de treliça. O nosso jardim é grande e cheio de cravos-de-defunto e jasmins. Grandes galhos de buganvília vermelha sobem pela casa. Muitas vezes nós nos sentávamos na varanda, olhando o nosso filhinho brincar no chão ladrilhado. Nossos filhos ainda estão lá com o pai.
Os pais de Shanti foram ficando cada vez mais preocupados. Perceberam que não se tratava de uma criança normal. Com medo de que a filha estivesse louca, levaram-na ao médico da família.
O Dr. Reddy, que fora alertado sobre o problema, assegurou aos pais que Shanti era uma criança normal e muito inteligente, que inventara aquelas conversas para chamar a atenção. Com a vantagem que lhe dava a sua qualidade de médico, iria fazê-la confessar que inventara aquelas fantasias - prometeu.
Shanti, metida em seu pequeno sari, sentou-se na dura cadeira de madeira do médico e cruzou os braços, enquanto respondia às perguntas do Dr. Reddy. Repetiu tudo o que dissera antes aos pais.
-Então, como é que você não passa de uma menininha? - perguntou o médico.
-Sabe de uma coisa?-retrucou Shanti.- Eu me chamava Ludgi e morri há cerca de um ano, quando dava à luz outro filho.
O médico e os pais entreolharam-se.
- Continue – convidou o Dr. Reddy. – Conte tudo mais.
- A minha gravidez foi difícil desde o começo – continuou a menina. – Não me sentia bem, e quando vi que se aproximava o dia, comecei a ter medo de não estar em condições. Sentia-me cada vez pior, e, quando ocorreu o parto, a criança estava em posição invertida. Ela escapou, mas eu morri.
A todas as perguntas do médico, a menina dava respostas pertinentes.
Shanti foi levada para fora do consultório por uma enfermeira, enquanto o Dr. Reddy conversava com os pais. Era de todo impossível – concordaram - que aquela filha única, educada com tanto recato, tivesse em mente tão impressionantes pormenores de uma gravidez difícil.
Nos quatro anos seguintes, os alarmados pais levaram Shanti de um médico a outro. Todos eles ficavam estupefatos, sem encontrar explicação para o caso.
Quando a menina tinha oito anos, seu tio-avô, o Professor Kishen Chand, resolveu tomar o problema em suas próprias mãos. Era evidente que a garota não se afastava de sua narrativa. Tudo aconselhava uma investigação, a fim de descobrir se, em Mutra, um homem chamado Kedarnath perdera a esposa, chamada Ludji, no ano de 1925. Assim sendo, o professor escreveu uma carta, contendo perguntas pertinentes, e enviou-a ao endereço que Shanti tantas vezes mencionara durante os interrogatórios.
Quando a carta chegou a Mutra, foi aberta e lida por um estupefato viúvo chamado Kedarnath. Os fatos eram estarreedores, pois, na verdade, ele ainda estava sofrendo com a perda de sua esposa. No entanto, embora fosse um devoto hindu, não podia admitir que Ludgi tivesse renascido e vivesse em Delhi, lembrando-se nitidamente de sua vida em comum.
Desconfiado de algum plano sinistro, talvez visando lesá-lo, Kedarnath escreve a um primo, o Sr. Lal, que morava em Delhi, pedindo-lhe para entrar em contato com Shanti e sua família. O primo, que estivera muitas vezes em casa de Kedarnath quando Ludgi estava viva, poderia interrogar a criança, para provar que ela era uma impostora e seus pais desprezíveis chantagistas.
Pretextando negócios, Lal marcou um encontro com Devi em sua casa. Quando lá chegou, Shanti, que tinha então nove anos, estava ajudando a mãe a preparar uma sopa de legumes, e foi abrir a porta para o visitante.
A Sra. Devi ouviu um grito abafado e foi ver o motivo. Shanti atirara-se aos braços do estupefato visitante.
-Mamãe!-exclamou, soluçando de emoção.- Este é um primo de meu marido. Morava não muito longe de nós em Mutra e depois se mudou para Delhi. Estou tão alegre de vê-lo! Entre, entre!- acrescentou, dirigindo ao recém-vindo. – Quero saber notícias de meu marido e de meus filhos.
Naquele momento, apareceu Devi, todos os quatros entraram e iniciaram a mais incrível e agitada das conversas. Lal confirmou todos os fatos que Shanti vinha contando há anos. Havia, realmente, um Kedarnath que se casara com uma jovem, Ludgi. Sua esposa tivera dois filhos, pelo mais moço dos quais tinha uma predileção acentuada, até que morreu de parto, quando ia ter o terceiro. Shanti concordava, com uma indicação de cabeça, enquanto Lal falava.
O professor Chand foi chamado para se juntar ao grupo, e cooperar para que fossem tomadas as providências adequadas. Ficou decidido que Kedarnath e o filho predileto iriam a Delhi, como hóspedes dos Devi.
Quando chegaram, o filho de Kedarnath quase foi derrubado pela menina, menor do que ele, que tentava carrega-lo e o cobria de beijos, chamando-o pelos apelidos carinhosos, que o menino já havia quase esquecido. Quanto a Kedarnath, Shanti o tratou como se fosse uma adulta, como uma esposa submissa, fazendo questão de servi-lhe queijo e biscoitos, com os mesmos modos cerimoniosos característicos de Ludgi. Os olhos de Kedarnath encheram-se de lágrimas. Comovida, Shanti procurou consolá-lo, com palavras carinhosas, que somente Ludgi e o marido conheciam.
Apesar da insistência de Shanti, Kedarnath negou-se a deixar o filho com a família Devi. No fundo, aterrorizados com os estranhos acontecimentos, pai e filho regressaram a Mutra, a fim de refletirem sobre o caso.
A notícia incrível de ocorrência chegou aos ouvidos de Desh Bandu Gupta, Presidente da Associação de Imprensa da Índia e membro do parlamento Indiano, que resolveu consultar cientistas e outras pessoas responsáveis, ficando decidido que, se o caso de Shanti fosse uma farsa, deveria ser desmascarado. Se, ao contrário, a criança fosse a reencarnação de Ludgi ou se possuísse algum poder oculto que lhe permitia revelações tão pormenorizadas, a Índia estaria testemunhando o mais espantoso fenômeno da história moderna.
De qualquer maneira, tornavam-se necessárias novas investigações. Chegou-se à conclusão de que o mais aconselhável seria levar Shanti a Mutra, e mostrar-lhe a casa onde ela afirmava ter vivido e morrido.
Um pequeno grupo tomou o trem, rumo a Mutra: Shanti, seus pais, Gupta, um advogado chamado Tara C. Mathur, assim como cientistas, repórteres e outras pessoas gratas.
Quando o trem chegou à estação, Shanti deu um grito de alegria e começou a acenar para várias pessoas que se encontravam na plataforma. Explicou, corretamente, quais eram os pais do seu marido. Depois de descer do trem, conversou com eles, fazendo perguntas pertinentes, e falando não o hindustani, que havia aprendido em Delhi, mas o dialeto da região de Mutra.
Os viajantes vindos de Delhi entraram nos carros que os esperavam, e começou uma das provas mais decisivas: saber se Shanti conhecia o caminho de sua suposta casa. Obedecendo às instruções da menina, seguiram por ruas estreitas e tortuosas, assustando os pedestres e as vacas sagradas que dormiam pacatamente nas portas das casas. Por duas vezes, Shanti hesitou antes de ensinar o caminho, pedindo que lhe desse algum tempo para refletir, mas indicou, afinal, em ambos os casos, a direção correta.
Enfim, mandou parar.
-A casa é esta – disse - Mas a cor é diferente. No meu tempo, era amarela. Agora é branca.
Não podia haver dúvida. Kedarnath e seus filhos, porém, já não moravam ali, e os novos ocupantes negaram-se a deixar a comissão examinar o prédio.
A pedido de Shanti, ela foi levada à casa onde Kedarnath passara a residir. Lá chegando, chamou os dois meninos pelo nome, mas não reconheceu a criança cujo nascimento custara a vida de Ludgi.
Em seguida, Shanti foi à casa da mãe de Ludgi, uma velha que ficou confusa e aterrorizada com aquela menina que agia como Ludgi, falava como Ludgi e sabia de coisas que só Ludgi conhecia. No entanto, ainda chorando a morte da filha, lembrou todos os detalhes de seu falecimento e dos funerais.Era demais, para a mente perplexa e cansada da velha.
Quando perguntaram a Shanti se nada mudara na casa de sua mãe, ela respondeu prontamente que não estava mais vendo o poço. Gupta mandou escavar o local que ela indicou, e foi realmente encontrado um poço, coberto com tábuas e cheio de lama.
Kedarnath perguntou a Shanti o que Ludgi fizera com vários anéis que ela escondera antes de morrer. Shanti respondeu que ela os pusera em um pote, que enterrara no jardim da casa em que moravam.A comissão de investigação encontrou, realmente, as jóias no local indicado por Shanti.
Nos dias que se seguiram àquele começo sensacional, nenhuma solução se apresentou. O caso se transformou em um beco sem saída, pela impossibilidade de qualquer explicação científica. Houve, contudo, muita sensação, além do noticiário internacional, tanto em Delhi como em Mutra, provocando embaraço e aborrecimentos. A menina vivia cercada de curiosidade, e era objeto de comentários desagradáveis. Evidentemente, Shanti não podia assumir o papel de mãe de meninos mais velhos do que ela, e seu amado Kedarnath aproximava-se dela com apreensão, e não com afeto.
Shanti compreendeu que estava vivendo em dois mundos e que, embora se sentisse atraída pelo passado, esse era mais penoso e difícil que o presente. Aceitando o conselho de outros, aos poucos, com esforço e sofrimento, afastou-se de sua família de Mutra e tratou de viver como uma jovem em Delhi.
Em 1958, cerca de um quarto de século mais tarde, um operoso repórter reabriu o seu caso. Encontrou Shanti levando uma vida tranqüila e discreta, como funcionária pública em Delhi. Jornais em todo mundo relembraram o caso, mas Shanti negou-se a fornecer novos esclarecimentos.
- Não quero reviver minhas vidas passadas, seja esta, seja minha existência anterior em Mutra – disse ela. – Foi muito difícil para mim dominar a vontade de voltar à minha família. Não desejo reabrir aquela porta fechada.
O Professor Indra Sem, da Sri Aurobindo Ashram (Retito Sagrado), de Pondicherry, tem toda a documentação do inexplicável caso de Shanti Devi. Os cientistas e letrados que estudaram o caso só puderam dizer, com certeza, duas coisas: uma menina, nascida em Delhi, no ano de 1926, sabia de fatos positivos acerca de uma mulher que morreu em 1925, e forneceu informações minuciosas e corretas acerca da família da morta e da cidade de Mutra, situada a muitas centenas de milhas de distância.”

segunda-feira, 6 de julho de 2009

domingo, 28 de junho de 2009

PRECES E ORAÇÕES



PRECE PELOS DESENCARNADOS












Pai!... Ao longo da vida fui devolvendo à Ti muitos daqueles que amei...

Um a um, às vezes os mais idosos, as vezes os mais jovens, foram retornando para casa, deixando para trás saudades que até hoje me é difícil suportar; flores que trocastes de jardim, deixando em seu lugar o silêncio e a solidão...

Hoje quero pedir por eles, a todos que de uma forma ou outra estiveram ligados à mim nesta encarnação, para que os abençoe e guarde, a fim de que encontrem paz e serenidade no mundo espiritual.

Muitos deles, Senhor, não obstante o coração generoso, afastaram-se do corpo através de enfermidades dolorosas e incuráveis que lhes minaram as forças até o final, deixando na memória de todos o exemplo da coragem e da fé em Teus desígnios, sem esmorecimento...

Outros, Senhor, desiludidos com as provas que lhes cabiam na derradeira existência, não suportaram e sucumbiram, afastando-se da carne pelo suicídio ou pelas drogas, arcando assim com o agravamento dos débitos que lhes diziam respeito e por isso mesmo infinitamente mais infelizes que antes...

Outros, Pai, deixaram para trás os mais belos e santos laços desencarnando em pleno vigor juvenil, desfazendo-se assim de pesados grilhões passados e retornando com a leveza das aves para os ninhos Superiores, para descansar e prosseguir...

Outros ainda, Senhor, deixaram o corpo como quem abandona fardo inútil após cumprida a tarefa, enveredando-se pelos caminhos da felicidade engalanados de luzes e valores, conquistados pelo trabalho santo a que se dedicaram na Terra, em favor de todos os seus semelhantes...

Representaram muito para mim... Para alguns eu pude dizer "te amo", para outros não... No entanto, pela importância que tiveram em minha vida, o meu amor há de lhes ser carinho constante no além, porque acredito que nada se desfaz com a morte do corpo, pelo contrário, se fortalece...

Que hoje, eu possa levar a todos eles o meu pensamento de ternura e gratidão, para que saibam, estejam onde estiverem, que não estão esquecidos na Terra, habitando em minha lembrança e em meu coração com a mesma força e a mesma sinceridade de antes!

Assim seja!

André Luiz, IDEAL André, 02.11.2002*



 

sábado, 6 de junho de 2009

Historia e contos sobre Espiritismo e Umbanda


HISTÓRIA DA UMBANDA

Em fins de 1908, uma família tradicional de Neves, Rio de Janeiro, foi surpreendida por uma ocorrência que tomou aspecto sobrenatural: o jovem Zélio Fernandino de Morais, que fora acometido de estranha paralisia, que os médicos não conseguiam debelar de forma alguma, certo dia ergueu-se do leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte, levantou-se normalmente e começou a andar, como se nada, antes, lhe tivesse tolhido os movimentos. Contava apenas 17 anos e destinava-se à carreira militar da Marinha. A medicina não soube explicar o que tinha ocorrido. Os tios, que eram padres católicos, foram colhidos de surpresa e nada esclareceram sobre a misteriosa ocorrência. Um amigo da família sugeriu, então, uma visita à Federação Espírita de Niterói, presidida por José de Souza, na época. No dia 15 de novembro de 1908, o jovem Zélio foi convidado a participar de uma sessão, e o dirigente dos trabalhos determinou que ele ocupasse um lugar à mesa. Tomado por uma força estranha e superior à sua vontade, contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, o jovem Zélio levantou-se e disse: "Aqui está faltando uma flor", e retirou-se da sala. Pouco depois, voltou trazendo uma rosa, que depositou no centro da mesa. Essa atitude insólita causou quase um tumulto. Restabelecida a corrente, manifestaram-se espíritos que se diziam de pretos escravos e de índios ou caboclos, em diversos médiuns. Esses espíritos foram convidados a se retirar pelo presidente dos trabalhos, advertidos do seu estado de atraso espiritual. Foi então que o jovem Zélio foi novamente dominado por uma força estranha, que fez com que ele falasse sem saber o que dizia. (De acordo com o depoimento do próprio Zélio à revista Seleções de Umbanda, em 1975). Zélio ouvia apenas a própria voz perguntar o motivo que levava os dirigentes dos trabalhos a não aceitar a comunicação daqueles espíritos e por que eram considerados atrasados - se apenas pela diferença de cor ou de classe social que revelaram ter tido na ultima encarnação. Seguiu-se um diálogo acalorado e os responsáveis pela mesa procuraram doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que estaria incorporado em Zélio e desenvolvia uma argumentação segura. Um dos médiuns videntes perguntou, afinal: "Por que o irmão fala nesses termos pretendendo que essa mesa aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? E qual é o seu nome, irmão?" Respondeu Zélio, ainda tomado pela força misteriosa: "Se julgam atrasados esses espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei em casa desse aparelho (o médium Zélio) para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados ou desencarnados. E, se quiserem saber o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim ““.Julga o irmão que alguém irá assistir ao seu culto?", perguntou com ironia o médium vidente; ao que o Caboclo das Sete Encruzilhadas respondeu:” Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei “. Zélio de Morais contou que no dia seguinte, 16 de novembro, ocorreu o seguinte: "Minha família estava apavorada. Eu mesmo não sabia o que se passava comigo. Surpreendia-me haver dialogado com aqueles austeros senhores de cabeça branca, em volta da mesa onde se praticava um trabalho para mim desconhecido. Como poderia, aos 17 anos, organizar um culto? No entanto eu mesmo falara, sem saber o que dizia e porque dizia. Era uma sensação estranha, uma força superior que me impelia a fazer e a dizer o que nem sequer passava pelo meu pensamento". "E no dia seguinte, em casa de minha família, na rua Floriano Peixoto, 30, em Neves, ao se aproximar à hora marcada - 20 horas - já se reuniam os membros da Federação Espírita, seguramente para comprovar a veracidade do que fora declarado na véspera; os parentes mais chegados, amigos, vizinhos e, do lado de fora, grande número de desconhecidos". Às 20 horas, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que se iniciava, naquele momento, um novo culto em que os espíritos de velhos africanos, que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase exclusivamente para trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos de nossa terra poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica desse culto, que teria por base o Evangelho de Cristo e, como mestre supremo, Jesus. Deu, também, o nome desse movimento que se iniciava; disse primeiro allabanda (ou um dos presentes assim anotou), mas, considerando que não soava bem a sua vibratória, substituiu-o por aumbanda, ou seja, umbanda, palavra de origem sânscrita, que se pode traduzir por "Deus ao nosso lado" ou "o lado de Deus". Muito provavelmente ficou o nome umbanda, e não aumbanda, porque alguém anotou a palavra separadamente (a umbanda). Sobre o assunto, diz Ramatis, no livro A Missão do Espiritismo: "A palavra AUM é de alta significação espiritual, consagrada pelos mestres; BANDHÃ, em sua expressão mística iniciática, significa movimento incessante, força centrípeta emanada do Criador. A palavra AUMBANDHÃ, pronunciada na forma de um mantra, aproxima-se melhor da sonorização OMBANDA, sendo ajustada à doutrina de Umbanda, praticada no Brasil". Voltemos ao relato de Zélio: "A casa de trabalhos espirituais, que no momento se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o Filho nos braços, também seriam acolhidos, como filhos, todos os que necessitassem de ajuda e de conforto". "Ditadas às bases do culto, o caboclo passou à parte prática dos trabalhos, curando enfermos. Antes do final da sessão, manifestou-se um preto-velho, Pai Antônio, que vinha completar as curas”. Nos dias seguintes, verdadeira romaria se formou na casa de Zélio. Enfermos vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cujas manifestações haviam sido consideradas como loucura, deixaram sanatórios e deram provas de suas excelentes qualidades mediúnicas. Estava criada a Umbanda no Brasil. Em 1935 estavam fundados os sete templos idealizados pelo caboclo das Sete Encruzilhadas, coroando de êxito o que nos parece ter sido um dos movimentos, entre outros semelhantes e não registrados, mais importantes da criação da Umbanda no Brasil. Zélio desencarnou em outubro de 1975, aos 84 anos de idade. De seu trabalho resultou a Umbanda de hoje, que abrange cerca de 30 milhões de adeptos, segundo estimativas apresentadas no 2o Festival Mundial de Artes Negras, realizado em Lagos, na Nigéria, pelo professor René Ribeiro, da Universidade Federal de Pernambuco, que demonstrou que a Umbanda era a religião que mais crescia no Brasil. O professor Ribeiro baseou-se em dados do IBGE. É uma religião brasileira do século XX, formada a partir dos cultos africanos que foram sendo modificados pela influência do índio, pela influência católica, pela influência espírita e, por último, pela influência do ocultismo europeu e da filosofia oriental.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Visão Espirita da Blblía

Visão Espírita da Bíblia J. Herculano Pires

VISÃO ESPÍRITA DA BÍBLIA
J. Herculano Pires
ÍNDICE

1. Nota da Editora
2. Bíblia e Evangelho
3. Sentido historio e a sua natureza profética
4. Coisas terríveis e ingênuas figuram nos livros Bíblicos
5. Como a palavra de Deus ficou sujeita ao homem
6. Toda a Bíblia está cheia de fenômenos mediúnicos
7. Professor de teologia defende interpretação espírita da Bíblia
8. Ensinou o Apóstolo Paulo: a Bíblia é um livro mediúnico
9. Comunicações de Espíritos e materialização na Bíblia
10. Moisés proibiu precisamente o que o Espiritismo proíbe
11. Moisés praticava e desejava a mediunidade bem orientada
12. Jeová dá lições sobre formas de mediunidade
13. Deuteronômio confirma a mediunidade de Moisés
14. Como os homens conseguem amoldar a palavra de Deus
15. Expressões e palavras desfiguradas na Bíblia
16. Epístolas testemunham a mediunidade apostólica
17. Como os apóstolos faziam as suas sessões espíritas
18. Deus morre quando os homens se apegam à letra que mata
19. Jesus proclamou em Nazaré o ano agradável ao Senhor
20. A Gênese explicada à luz dos princípios espíritas
21. Como Deus tirou o homem do barro ou pó da terra
22. Eva e a costela de Adão: um mito de origem social
23. Kardec esclarece a alegoria da queda do homem na Bíblia
24. Mostra a Bíblia que Adão não foi o primeiro
25. Caim fundou uma cidade sem ter quem habitá-la
26. Os filhos de Deus casaram-se com as filhas dos homens
27. Dilúvio: catástrofe parcial adaptada a uma antiga lenda
28. Adão não foi o primeiro homem, mas apenas o primeiro hebreu
29. O papel dos profetas na Bíblia e no sentido culto da igreja primitiva
30. Sentido cosmossociológico da lenda bíblica do dilúvio
31. O Livro dos Espíritos como seqüência natural da Bíblia
32. O que foi e o que é
33. A Bíblia e o Espiritismo
34. Argumentos versus citações
Visão Espírita da Bíblia J. Herculano Pires


VISÃO ESPÍRITA DA BÍBLIA

l - NOTA DA EDITORA

O presente livro é a reunião de crônicas escritas por J. Herculano Pires e publicadas,
em sua maioria, no extinto jornal "Diário de São Paulo". Como os leitores poderão ver, a
atualidade destas páginas é indiscutível. Herculano Pires foi um dos mais felizes intérpretes
do pensamento espírita dentre os que reencarnaram e já retornaram ávida espiritual. Por
isso, seus escritos constituem páginas de grande importância para os estudiosos do
Espiritismo. Ao reuni-las em livro e apresentá-las ao público, Edições Correio Fraterno
presta homenagem a José Herculano Pires, no décimo ano de seu desencarne.
S. Bernardo do Campo. Março de 1989.

2 - BÍBLIA E EVANGELHO

A Bíblia (que o nome quer dizer simplesmente: O Livro) é na verdade uma
biblioteca, reunindo os livros diversos da religião hebraica. Representa a codificação da
primeira revelação do ciclo do Cristianismo. Livros escritos por vários autores estão nela
colecionados, em número de 42. Foram todos escritos em hebraico e aramaico e traduzidos
mais tarde para o latim, por São Jerônimo, na conhecida Vulgata Latina, no século quinto
da nossa era. As igrejas católicas e protestantes reuniram a esse livro os Evangelhos de
Jesus, dando a estes o nome geral de Novo Testamento.
O Evangelho, como se costuma designar o Novo Testamento, não pertence de fato à
Bíblia. É outro livro, escrito muito mais tarde, com a reunião dos vários escritos sobre Jesus
e seus ensinos. O Evangelho é a codificação da segunda revelação cristã. Traz uma nova
mensagem, substituindo o deus-guerreiro da Bíblia pelo deus-amor do Sermão da
Montanha. No Espiritismo não devemos confundir esses dois livros, mas devemos
reconhecer a linha histórica e profética, a linhagem espiritual que os liga. São, portanto,
dois livros distintos.
O Espiritismo
A antiga religião hebraica é geralmente conhecida como Mosaísmo, porque surgiu e
se desenvolveu com Moisés. A nova religião dos Evangelhos é designada como
Cristianismo, porque vem do ensino do Cristo. Mas, assim como nas páginas da Bíblia lado
o advento do Cristo, também nas páginas do está anunciado o advento do Espírito de
Verdade. Este advento se deu no século passado, com a terceira e última revelação cristã,
chamada revelação espírita. Cinco novos livros aparecem, então, escritos por Kardec, mas
ditados, inspirados e Orientados pelo Espírito de Verdade e outros Espíritos Superiores. Os
cinco livros fundamentais do Espiritismo, que têm como base O Livro dos Espíritos,
representam a codificação da terceira revelação. Essa revelação se chama Espiritismo
porque foi dada pelos Espíritos. Sua finalidade é esclarecer os ensinos anteriores, de acordo
com a mentalidade moderna, já suficientemente arejada e evoluída para entender as
alegorias e símbolos contidos na Bíblia e no Evangelho. Mas enganam-se os que pensam
que a Codificação do Espiritismo contraria ou reforma o Evangelho.

3 - SENTIDO HISTÓRICO DA BÍBLIA E A SUA NATUREZA PROFÉTICA

Qual a posição do Espiritismo diante do problema bíblico? Os recentes debates na
televisão entre espíritas, pastores protestantes e sacerdotes católicos, deram motivo a
algumas incompreensões, de que se aproveitaram adversários pouco escrupulosos da
Doutrina Espírita, para lhe desfecharem novos e injustos ataques. Vamos procurar
esclarecer, por estas colunas, a posição espírita, como já havíamos prometido.
Kardec define essa posição, desde O Livro dos Espíritos, como a de estudo e
esclarecimento do texto, à luz da História e na perspectiva da evolução espiritual da
Humanidade. No cap. III deste livro, final do item 59, depois de analisar as contradições
entre a Bíblia e as Ciências, no tocante à criação do mundo, ele declara: "Devemos concluir
que a Bíblia é um erro? Não; mas que os homens se enganaram na sua interpretação".
Essas palavras de Kardec, sustentadas através de toda a Codificação, esclarecem a
posição espírita. Devemos reconhecer na Bíblia a sua natureza profética (ou seja:
mediúnica), encerrando a l Revelação, no ciclo histórico das revelações cristãs. Esse ciclo
começa com Moisés (l Revelação), define-se com Jesus (II Revelação) e encerra-se com o
Espiritismo (III Revelação). Os leitores encontrarão explicações detalhadas a respeito em O
Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que é um manual de moral evangélica.
O conceito espírita de Revelação, porém, não é o mesmo das religiões em geral. Revelar é
ensinar, e isso tanto pode ser feito pêlos Espíritos (revelação divina) quanto pêlos homens
(revelação humana), mas não por Deus "em pessoa", porque Deus age através de suas leis e
dos Espíritos. A revelação bíblica, portanto, não pode ser chamada de "palavra de Deus".
Ela é, apenas, a palavra dos Espíritos-Reveladores, e essa palavra é sempre adequada ao
tempo em que foi proferida. Isto é confirmado pela própria Bíblia, como veremos no
decorrer deste estudo.
A expressão "a palavra de Deus" é de origem judaica. Foi naturalmente herdada
pelo Cristianismo, que a empregou para o mesmo fim dos judeus: dar autoridade à Igreja. A
Bíblia, considerada "a palavra de Deus", reveste-se de um poder mágico: a sua simples
leitura, ou simplesmente a audiência dessa leitura, pode espantar o Demônio de uma pessoa
e convertê-la a Deus. Claro que o Espiritismo não aceita nem prega essa velha crendice,
mas não a condena. A cada um, segundo suas convicções, desde que haja boa intenção.

4 - COISAS TERRÍVEIS E INGÉNUAS FIGURAM NOS LIVROS BÍBLICOS

A palavra de Deus não está na Bíblia, mas na natureza, traduzida em suas leis. A
Bíblia é simplesmente uma coletânea de livros hebraicos, que nos dão um panorama
histórico do judaísmo primitivo. Os cinco livros iniciais da Bíblia, que constituem o
Pentateuco mosaico, referem-se à formação e organização do povo judeu, após a libertação
do Egito e a conquista de Canaã. Atribuídos a Moisés, esses livros não foram escritos por
ele, pois relatam, inclusive, a sua própria morte.
As pesquisas históricas revelam que os livros da Bíblia têm origem na literatura oral
do povo judeu. Só depois do exílio na Babilônia foi que Esdras conseguiu reunir e compilar
os livros orais (guardados na memória) e proclamá-los em praça pública como a lei do
judaísmo, ditada por Deus.
Os relatos históricos da Bíblia são ao mesmo tempo ingênuos e terríveis. Leia o
estudante, por exemplo, o Deuteronômio, especialmente os capítulos 23 e 28 desse livro, e

veja se Deus podia ditar aquelas regras de higiene simplória, aquelas impiedosas leis de
guerra total, aquelas maldições horríveis contra os que não crêem na "sua palavra". Essas
maldições, até hoje, apavoram as criaturas simples que têm medo de duvidar da Bíblia.
Muitos espertalhões se servem disso e do prestígio da Bíblia como "palavra de Deus", para
arregimentar e tosquiar gostosamente vastos rebanhos.
As leis morais da Bíblia podem ser resumidas nos Dez Mandamentos. Mas esses
mandamentos nada têm de transcendentes. São regras normais de vida para um povo de
pastores e agricultores, com pormenores que fazem rir o homem de hoje. Por isso, os
mandamentos são hoje apresentados em resumo. O Espírito que ditou essas leis a Moisés,
no Sinai, era o guia espiritual da família de Abrão, Isaac e Jacob, mais tarde transformado
no Deus de Israel. Desempenhando uma elevada missão, esse Espírito preparava o povo
judeu para o monoteísmo, a crença num só Deus, pois os deuses da antiguidade eram
muitos.
O Espiritismo reconhece a ação de Deus na Bíblia, mas não pode admiti-la como a
"palavra de Deus". Na verdade, como ensinou o apóstolo Paulo, foram os mensageiros de
Deus, os Espíritos, que guiaram o povo de Israel, através dos médiuns, então chamados
profetas. O próprio Moisés era um médium, em constante ligação com lave ou Jeová, o
deus bíblico, violento e irascível, tão diferente do deus-pai do Evangelho. Devemos
respeitar a Bíblia no seu exato valor, mas nunca fazer dela um mito, um novo bezerro de
ouro. Deus não ditou nem dita livros aos homens.

5 - COMO A PALAVRA DE DEUS FICOU SUJEITA AO HOMEM


Os estudos bíblicos se processam no mundo em duas direções diversas: há o estudo
normativo dos institutos religiosos, ligados às várias igrejas, que seguem as regras de
hermenêutica e a orientação de pesquisas destas igrejas; e há o estudo livre dos institutos
universitários independentes, que seguem os princípios da pesquisa científica e da
interpretação histórica. O Espiritismo não se prende a nenhum dos dois sistemas, pois sua
posição é intermediária. Reconhecendo o conteúdo espiritual da Bíblia, o Espiritismo
estuda à luz dos seus princípios, em harmonia com os métodos da antropologia cultural e
dos estudos históricos.
Somente às religiões dogmáticas, que se apresentam como vias exclusivas de
salvação, interessa o velho conceito da Bíblia como palavra de Deus. Primeiro, porque esse
conceito impede a investigação livre. Considerada como palavra de Deus, a Bíblia é
indiscutível, deve ser aceita literalmente ou de acordo com a "interpretação autorizada da
igreja". Por isso, as igrejas sempre se apresentam como "autoridade única na interpretação
da Bíblia". Segundo, porque essa posição corresponde aos tempos mitológicos, ao
pensamento mágico, e não à era de razão em que vivemos.
Vimos rapidamente as contradições insanáveis em que se afundam os hermeneutas
religiosos. Vêem-se eles obrigados a perigosas ginásticas do raciocínio, apoiadas em
fórmulas pré-fabricadas, para se safarem das contradições do texto. Mas não escapam
jamais à contradição fundamental, que é esta: consideram a Bíblia como a palavra de Deus,
mas estabelecem, para sua interpretação, regras humanas. Dessa maneira, é o homem que
faz Deus dizer o que lhe interessa.
Há no meio espírita alguns críticos agressivos da Bíblia. São confrades ilustres e
estudiosos, que tomam essa posição em face das agressões religiosas à Doutrina, com base
nos textos bíblicos. A posição da Doutrina, porém, não é essa, como já vimos em Kardec.
As supostas condenações do Espiritismo pela Bíblia decorrem das interpretações
sacerdotais. A Bíblia é um dos maiores repositórios de fatos espíritas de toda bibliografia
religiosa. E os textos bíblicos estão eivados de passagens tipicamente espíritas, como
veremos.

6 - TODA A BÍBLIA ESTÁ CHEIA DOS FENÔMENOS MEDIÚNICOS


O Espiritismo é apresentado por Kardec, sob a orientação do Espírito da Verdade,
como uma seqüência natural do Cristianismo. É o cumprimento da promessa evangélica de
Jesus, de enviar à Terra o Consolador, que completaria o seu ensino, esclarecendo os
homens a respeito daquilo que ele só pudera ensinar através de alegorias, no seu tempo. Os
homens de então não estavam em condições de compreender o fenômeno natural da
comunicação espírita, que misturavam com sistemas de magia e interpretações
supersticiosas. Em A Gênese, Kardec esclarece, no primeiro capítulo, que era necessária a
evolução das ciências, o progresso dos conhecimentos, o desenvolvimento intelectual, para
que o Espiritismo fizesse seu aparecimento, como doutrina, em nosso mundo.
Assim sendo, o Espiritismo tem como base as Escrituras, tem seus fundamentos na
Bíblia. Mas é claro que o conceito espírita da Bíblia não pode ser igual ao das religiões que
ficaram no passado, apegadas às formas sacramentais de magia, aos ritos materiais e aos
cultos exteriores do próprio paganismo. A Bíblia não pode ser, para o espírita esclarecido, a
"palavra de Deus", pois é um livro escrito pelos homens, como todos os outros livros, e é,
principalmente, um conjunto de livros em que encontramos de tudo, desde as regras
simplórias de higiene dos judeus primitivos até as lendas e tradições do povo hebreu,
misturadas às heranças dos egípcios e babilônios. O Espiritismo ensina a encarar a Bíblia
como um marco da evolução religiosa na Terra, mas não faz dela um novo bezerro de ouro.
É difícil falarmos da Bíblia a pessoas apegadas ao processo de fanatismo religioso
de algumas seitas obscurantistas, que chegam, em pleno século vinte, ao cúmulo de
renegarem a cultura, para só aceitarem os escritos judeus da época das civilizações agrárias.
São pessoas simples e crentes, que merecem o nosso respeito, mas inteiramente incapazes
de compreender o problema bíblico. Isso, entretanto, não deve impedir-nos de esclarecer
esse problema à luz dos princípios espíritas. A Bíblia não condena o Espiritismo. Pelo
contrário, a Bíblia confirma o Espiritismo, como demonstraremos. Basta lembrar o caso de
Samuel, atormentado pelo espírito mau, aliviado pela mediunidade de Davi, que usava a
música para afastá-lo. Caso típico de mediunidade curadora, constante de Samuel 16: 14-
23. E o colégio de médiuns que acompanhava Moisés no deserto? E assim por diante, da
primeira à última página da Bíblia. Mas o pior cego é aquele que não quer enxergar.

7 - PROFESSOR DE TEOLOGIA DEFENDE A INTERPRETAÇÃO ESPÍRITA
DA BÍBLIA


Numa insistência verdadeiramente desanimadora, certas seitas religiosas que fazem
do combate ao Espiritismo a sua principal tarefa, alegam sempre que os espíritas têm medo
da Bíblia. Num debate de TV, o reitor de um instituto bíblico protestante chegou a declarar
aos espíritas presentes, de Bíblia em punho: "Vocês não querem ouvir a palavra de Deus
mas hoje vão ouvir"! Na sua ingenuidade, pensava que a leitura da Bíblia poria os espíritas
a correr.
Outro pastor, chefe de uma seita por ele mesmo fundada, escandalizou-se quando
afirmamos que a Bíblia não é a palavra de Deus, e ingenuamente perguntou-nos: "Mas o
Senhor tem a coragem de dizer uma coisa dessas na frente do povo de São Paulo"? Mais
tarde, esquecendo os seus deveres religiosos de honestidade e respeito à verdade, promoveu
uma campanha sistemática, pelo rádio, de desvirtuamento das nossas declarações. Pensava,
certamente, que Deus aprovava sua "bonita" atitude.
Alguns espíritas, por sua vez, ficaram assustados com a nossa audácia. Achavam
que poderíamos afastar do Espiritismo os crentes na Bíblia. Esqueceram-se de que o
Espiritismo não se interessa por quantidade de adeptos, mas pela sua qualidade. Espíritas
que se assustam com a verdade sobre a Bíblia, estão ainda longe de compreender a
Doutrina. Foi por isso tudo que resolvemos enfrentar o tema durante algum tempo, nesta
seção1. É necessário que se diga a verdade, que se esclareça o povo, cm vez de deixá-lo
iludido por expressões como "a palavra de Deus", que servem apenas para os que não
querem estudar o problema bíblico em sua realidade histórica, religiosa e cultural.
Os que vivem gritando, de Bíblia em punho, que o Espiritismo é condenado pela
Bíblia, não conhecem uma coisa nem outra. Ignoram o que seja a Bíblia e não têm a mais
leve noção de Espiritismo. No dia em que conhecerem ambas as coisas, terão vergonha de
suas acusações atuais. Se essas pessoas gostassem de ilustrar-se um pouco, indicaríamos a
elas a leitura de alguns livros de ilustres figuras protestantes. Por exemplo, o livro de
Haraldur Nielson, teólogo, tradutor da Bíblia para o islandês e professor de teologia da
Universidade da Islândia, intitulado: O Espiritismo e a Igreja2. É um livrinho pequeno, que
ainda agora aparece em nova edição brasileira e está nas livrarias. Nesse livro, os nossos
acusadores terão o testemunho de um membro da Sociedade Bíblica Inglesa, que não se
tornou espírita, mas que reconhece a natureza dos livros bíblicos. Ele protesta contra as
afirmações, sempre levianas, de que a Bíblia condena as manifestações espíritas e as
sessões de Espiritismo.
I. O autor se refere à coluna que mantinha no "Diário de São Paulo". 2. Livro
relançado "Edições Correio Fraterno", Caixa Postal 58, CEP 09700, São Bernardo do
Campo SP,

8 - ENSINOU O APOSTOLO PAULO: A BÍBLIA É UM LIVRO MEDIÚNICO


A origem mediúnica das religiões é hoje uma tese provada pelas pesquisas
antropológicas e etnológicas. Só os materialistas a rejeitam. Os interessados podem estudar
o assunto no livro do Prof. Ernesto Bozzano, Fenomini Supranormali e Popoli Primitivi
(Edizione Europa, Verona), ou em nosso livro O Espírito e o Tempo, lançado pela Editora
Pensamento, nesta capital. A origem da Bíblia é um capítulo natural desse processo geral
que originou as religiões. Os leitores podem encontrar material a respeito no livro do prof.
Romeu do Amaral Camargo, De Cá e de Lá, no meu livro já citado e em Os 3 caminhos de
Hécate, editado pela Edicel.
Mas não pense o leitor que são os espíritas que afirmam a origem mediúnica da
Bíblia. Quem afirmou foi o apóstolo Paulo, quando declarou peremptoriamente: "Vós
recebestes a lei por mistérios dos anjos", isto em Atos, 7:53, explicando ainda em Hebreus
2:2: "Porque a lei foi anunciada pêlos anjos", e confirmando na mesma epístola, l: 14:
"Espíritos são administradores, enviados para exercer o ministério". Antes, em Hebreus, l
:7, Paulo, depois de advertir que Deus havia falado de muitas maneiras aos profetas,
acrescenta: "Sobre os anjos, diz: o que faz os seus anjos espíritos e os seus ministros
chamas de fogo".
Está claro que os anjos são espíritos, reveladores das leis de Deus aos homens,
como afirma o Espiritismo. Paulo vai mais longe, afirmando em Atos 7:30-31, que Deus
falou a Moisés através de um anjo na sarça-ardente. Veja-se o que ficou dito acima: os
anjos são espíritos, ministros de Deus, que o faz chama do fogo, nas aparições mediúnicas.
O reverendo Haraldur Nielson, em seu livro O Espiritismo e a Igreja, ele que foi o tradutor
da Bíblia para o islandês, a serviço da Sociedade Bíblica Inglesa, afirma que o Cristo é
muitas vezes chamado no Evangelho, no original grego, de "pneuma", depois da
ressurreição. E "pneuma" quer dizer espírito. Da mesma maneira, lembra que Paulo, em
Hebreus, 12:9, refere-se a Deus como "Deus dos Espíritos". Lembra ainda que as
manifestações dos Espíritos, nas sessões que realizou com o bispo Hallgrimur Svenson em
Reikjavik, eram na forma de línguas de fogo. Essas manifestações confirmavam que o anjo
da sarça-ardente e os fenômenos do Pentecostes foram mediúnicos.
O que falta aos acusadores do Espiritismo é estudo. Se pusessem o seu dogmatismo
de lado e estudassem um pouco, haveriam de compreender essas coisas. A Bíblia foi
inspirada pêlos Espíritos, como mensageiros de Deus, no tocante aos seus livros proféticos,
que chamamos de mediúnicos. Os livros históricos e de legislação civil receberam também
a colaboração dos Espíritos. A Bíblia, pois, é um livro mediúnico que não pode condenar o
Espiritismo, pois estaria se condenando a si mesma.

9 - COMUNICAÇÕES DE ESPÍRITOS E MATERIALIZAÇÃO NA BÍBLIA

O ministério dos anjos, esse ministério divino, a que o apóstolo Paulo se referiu
tantas vezes, é exercido através da mediunidade. A própria Bíblia nos relata uma infinidade
de comunicações mediúnicas. Veja-se, por exemplo, as palavras do rei Samuel, em
Provérbios, 31:1-9, que, segundo o texto bíblico, são "a profecia com que lhe ensinou sua
mãe". Temos ali uma comunicação espírita integralmente reproduzida na Bíblia. A mãe do
rei Samuel) não em forma de anjo, mas na sua própria forma humana) aparece ao Rei e lhe
dita a mensagem.
A Bíblia condenou essa comunicação? Não. Pelo contrário, aprovou-a e
transcreveu-a. Em Números l 1:23-25, temos a descrição de dois fatos mediúnicos valiosos.
Primeiro, o Senhor fala a Moisés. Depois, Moisés reúne os setenta anciãos, formando uma
roda, e o Senhor se manifesta materialmente, descendo numa nuvem. Temos a
comunicação pessoal de Jeová a Moisés, e a seguir o fenômeno evidente de materialização
de Jeová, através da mediunidade dos anciãos, reunidos para isso na tenda. A nuvem é a
formação de ectoplasma na qual o espírito se corporifica.
Só os que não conhecem os fenômenos espíritas podem aceitar que ali se deu um
milagre, um fato sobrenatural. E podem aceitar, também, a manifestação do próprio Deus.
Longe disso. Jeová era o espírito protetor de Israel, que se apresentava como Deus, porque
a mentalidade dos povos do tempo era mitológica, e os espíritos eram considerados deuses.
O filósofo Tales de Mileto já dizia, na Grécia, cinco séculos antes de Cristo: "O mundo é
cheio de deuses". Os espíritos elevados eram considerados deuses benéficos, e os espíritos
inferiores eram deuses maléficos. Daí a invenção do Diabo, como concorrente de Deus no
domínio do mundo e das almas.
Deuses, anjos e demônios, da Bíblia, dos Vedas, do Alcorão, de todos os livros
sagrados, nada mais são do que espíritos. Como podem essas criaturas condenar o
Espiritismo? Elas são a prova tradicional da verdade espírita, ao longo da História, como
ensina Kardec. O que Moisés condenou foi apenas o abuso da mediunidade. Isso, o
Espiritismo também condena.

10-MOISÉS PROIBIU PRECISAMENTE O QUE O ESPIRITISMO PROÍBE

A condenação do Espiritismo pela Bíblia, que é a mais citada e repetida, figura no
Cap. 19 do Deuteronômio. É a condenação de Moisés, que vai do versículo 9 ao 14. A
tradução, como sempre, varia de um tradutor para outro, e às vezes nas diversas edições da
mesma tradução. Moisés proíbe os judeus, quando se estabeleceram em Canaã, de praticar
estas abominações: fazer os filhos passarem pelo fogo; entregar-se à adivinhação,
prognosticar, agourar ou fazer feitiçaria; fazer encantamento, necromancia, magia, ou
consultar os mortos. E Moisés acrescenta, no versículo 14: "Porque essas nações, que hás
de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores, porém a ti o Senhor teu Deus
não permitiu tal coisa". Assim está na tradução de Almeida, mas variando de forma, por
exemplo, na edição das Sociedades Bíblicas Unidas e na edição mais recente da Sociedade
Bíblica do Brasil.
Na primeira dessas edições (ambas da mesma tradução de João Ferreira de
Almeida) lê-se, por exemplo: "quem pergunte a um espírito adivinhante", e na segunda:
"quem consulte os mortos". Na tradução de António Pereira de Figueiredo, lê-se: "nem
quem indague dos mortos a verdade". Qual delas estará mais de acordo com o texto? Seja
qual for, pouco importa, pois a verdade dita pêlos mortos ou pêlos vivos (estes, mortos na
carne) é que tudo isso que Moisés condena, também o Espiritismo condena. Não
esqueçamos, porém, de que a condenação de Moisés era circunstancial, pois os povos de
Canaã, que os judeus iam conquistar a fio de espada, eram os que praticavam essas coisas.
Mas a condenação do Espiritismo é permanente e geral, pois o Espiritismo, sendo
essencialmente cristão, não se interessa por conquistas guerreiras e não faz divisão entre os
povos.
Kardec adverte em O Evangelho Segundo o Espiritismo, livro de estudo das partes
morais do Evangelho: "Não soliciteis milagres nem prodígios ao Espiritismo, porque ele
declara formalmente que não os produz". (Cap. XXI: 7). Em O Livro dos Médiuns, Kardec
adverte: "Julgar o Espiritismo pelo que ele não admite, é dar prova de ignorância e
desvalorizar a própria opinião". (Cap. 11:14). Em A Gênese e em O Livro dos Espíritos,
como nos já citados, Kardec esclarece que a finalidade da prática espírita é moralizar os
homens e os povos. Quem conhece o Espiritismo sabe que todo interesse pessoal,
particular, é rigorosamente condenado. Adivinhações, agouros, feitiçaria, encantamentos,
consultar interesseiras, são práticas de magia antiga, que Moisés condenou, como o
Espiritismo condena hoje. Mas o próprio Moisés aprovou a mediunidade moralizadora, a
prática espiritual da relação com o mundo invisível, como veremos.

11 - MOISÉS PRATICAVA E DESEJAVA A MEDIUNIDADE BEM
ORIENTADA


As pretensas condenações da Bíblia ao Espiritismo, são condenações das práticas de
magia, que os judeus haviam aprendido na Babilônia e no Egito, e que iriam encontrar
também em Canaã, pois os cananitas (habitantes da Palestina) como todos os povos antigos,
davam-se a essas práticas. Mas nos mesmos livros da Bíblia, em que aparecem essas
condenações, há numerosas ordenações que os mais aferrados seguidores da Bíblia não
obedecem. Um pastor nos respondeu, em programa de televisão, que a sua igreja cumpria a
"palavra de Deus" pela metade. O que vale dizer que a palavra de Deus é por ela
desrespeitada. Preferimos cumprir a palavra de Deus integralmente, e por isso evitamos
confundi-la com as palavras humanas e com a legislação envelhecida de povos antigos.
Conforme prometemos, vamos hoje demonstrar que Moisés, o grande legislador
judeu, médium de excepcionais faculdades, não condenou, mas praticou a mediunidade e
desejava vê-la praticada pelo seu povo. Quanto à prática da mediunidade por Moisés, não
precisamos fazer novas citações. Ele recebia espíritos, conversava com espíritos, evocava
espíritos, e além disso fazia-se acompanhar no deserto por uma equipe de médiuns,
provocando até mesmo fenômenos de materialização. Isso tudo já demonstramos. Mas
vamos agora a um episódio que pastores e padres não citam, mas que está na Bíblia, em
todas as traduções.
O prof. Romeu do Amaral Camargo, que foi diácono da l Igreja Presbiteriana
Independente de São Paulo, comenta esse episódio em seu livro espírita "De cá e de Lá". É
o constante do livro de Números, Cap. 11, versículos 26 a 29. Foi logo após a reunião dos
setenta médiuns na tenda, para a manifestação de Jeová.
Dois médiuns haviam ficado no campo: Eldad e Medad. E lá mesmo foram tomados
e profetizavam, ou seja, davam comunicações de espíritos. Um jovem correu e denunciou o
fato a Josué. Este pediu a Moisés que proibisse as comunicações.
A resposta de Moisés é um golpe de morte em todas as pretensas condenações do
Espiritismo pela Bíblia. Eis o que diz o grande condutor do povo hebreu: "Que zelos são
esses, que mostras por mim? Quem dera que todo o povo profetizasse, e que o Senhor lhe
desse o seu espírito"! Comenta o prof. Camargo: "Médium de extraordinárias faculdades,
Moisés sabia que Eldad e Medad não eram mercenários nem mistificadores, não
procuravam comunicar-se com o mundo invisível, mas eram procurados pêlos espíritos".
Como acabamos de ver, Moisés aprovava a mediunidade pura que o Espiritismo aprova e
defende. Mas o pior cego é o que não quer ver, principalmente quando fechar os olhos é
conveniente e proveitoso.

12 - JEOVÁ DAS LIÇÕES SOBRE FORMAS DE MEDIUNIDADE


Jeová ou lave, o Deus de Israel, como já vimos anteriormente, era o Espírito Guia
do Povo Hebreu. Para os povos antigos, os Espíritos eram Deuses, e o Deus de cada povo
era a Divindade Suprema. Esse o motivo por que Jeová se apresentava ao seu povo como se
fosse o próprio Deus único. E como se apresentava ele? Através da mediunidade, ensinando
aos homens rudes do tempo as verdades espirituais que deveriam frutificar no futuro. É por
isso que encontramos, nas páginas da Bíblia, não só o relato de fenômenos espíritas
ocorridos com o povo hebreu, mas também ensinamentos precisos e claros sobre a
mediunidade.
Logo após os episódios que comentamos, com fenômenos de materialização e de
comunicações, o Livro dos Médiuns fornece-nos outros, em que vemos Jeová ensinar que a
mediunidade tem várias formas, como o ensina hoje o Espiritismo. A Bíblia está cheia
desses ensinos, que só não vêem os cegos ou os que não querem ver. Basta o leitor ler a
Bíblia, de qualquer tradução, católica ou protestante, no Livro de Números, capítulo XII.
Pode ler todo o capítulo, ou apenas os versículos 5 a 8. Nestes versículos, Jeová dá aos
hebreus uma das lições que só muito mais tarde apareceria de novo, mas então no Livro dos
Médiuns, de Allan Kardec. Vejamo-la.
Miriam e Aarão falavam mal de Moisés, por haver ele tomado uma nova mulher, de
origem cusita (era a mulher negra de Moisés). Ora, Jeová não gostou disso e subitamente
"desceu da nuvem", para repreende-los. Descer da nuvem é materializar-se, pois a nuvem é
simplesmente a formação de ectoplasma, como a Bíblia deixa bem claro nos seus relatos.
Imagina-se o Senhor do Universo, o Deus-Pai do Evangelho, fazendo esse papel de
alcoviteiro! Seria absurdo tomarmos esse Jeová, sempre imiscuído nos assuntos
domésticos, pelo próprio Deus! Como espírito-guia, podemos compreendê-lo. E é como
espírito-guia que ele repreende os maldizentes, castiga Miriam, mas antes ensina:
Primeiro, diz ele que pode manifestar-se aos profetas (-médiuns) por meio de visão
(da vidência) ou de sonhos. Depois, lembrando que Moisés é o seu instrumento para
direção do povo, esclareceu: "Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a
minha casa", acrescenta: "Boca a boca fale com ele, claramente, e não por enigmas". Cinco
formas da mediunidade figuram no ensino bíblico: I) a de vidência; 2) a de desprendimento,
ou sonambúlica; 3) a de materialização; 4) a de voz-direta; e 5) a de audiência. O próprio
Jeová ensinava a mediunidade, como o apóstolo Paulo, em l Coríntios, ensinaria mais tarde
a fazer uma sessão mediúnica.

13 – DEUTERONÔMIO CONFIRMA MEDIUNIDADE DE MOISÉS


Quem conhece o Deuteronômio, livro Bíblico sempre citado contra o Espiritismo,
sabe que os seus melhores episódios são de ordem declaradamente mediúnica. O próprio
Moisés é constantemente citado como "mediador entre Deus e o povo". A palavra
"médium" é moderna, mas quer dizer o mesmo que "mediador". A modernização dos textos
bíblicos, feita por várias igrejas, chegou a incluir a palavra "médium" numa tradução
clássica da nossa língua, mas somente quando aplicada para combater o Espiritismo.
Nenhum revisor sagrado das nossas traduções clássicas foi capaz da necessária coerência,
substituindo a palavra "mediador", que se refere a Moisés, pela "perigosa" palavrinha
espírita. Mas o leitor perspicaz, mesmo que não seja espírita, logo percebe a manobra.
O capítulo V do Deuteronômio é inteiramente mediúnico. Mas convém lembrar que
os sucessos desse capítulo são melhor compreendidos quando lemos o Êxodo, caps. 18 a
20. Nos versículos 13a 16, do Cap. 18, vemos Moisés diante do povo, para ser o mediador,
o intérprete, - mas na verdade o médium, -entre Deus e o povo. Nos versículos 22 a 31,
Cap. X do Deuteronômio, temos uma bonita descrição de conhecidos fenômenos
mediúnicos: o monte Horebe envolto em chamas, a nuvem de fluidos ectoplásmicos
(materializantes), e a voz-direta de Jeová, que falava do meio do fogo, sem se apresentar ao
povo. E Moisés, como sempre, servindo de intermediário, na sua função mediúnica. Por
fim, Jeová recomenda a Moisés que mande o povo embora, mas permaneça com ele, para
receber as demais instruções. (Vers. 31, Cap. 5 de Deut.).
No famoso Cap. 18 de Deuteronômio, tão citado contra o Espiritismo, logo após os
versículos das proibições, temos a promessa de Jeová, de que suscitará um grande profeta
para auxiliar e orientar o povo. Como fazia com Moisés, o próprio Jeová promete que porá
as suas palavras na boca desse novo médium. Não obstante, sabendo que todo médium está
sujeito a envaidecer-se e dar entrada a espíritos perturbadores, Jeová determina que o
profeta seja morto: "se falar em nome de outros deuses".
Esta passagem (vers. 20 do Cap. XVIII) é uma confirmação bíblica do ensino
espírita de que, naquele tempo, os espíritos eram chamados "deuses". Jeová era espíritoguia
do povo hebreu, e por isso considerado como o seu deus, o único verdadeiro. Mas os
profetas de Jeová podiam receber outros deuses, como Baal, Apoio ou Zeus, pelo que a
proibição bíblica nesse sentido é terrível e desumana, como podemos ver nos textos. A
evolução espiritual do povo hebreu permitiria a Jesus vir corrigir esses abusos e substituir a
concepção bárbara de Deus dos Exércitos pela concepção evangélica do Deus-Pai, cheio de
amor com todas as criaturas.

14 - COMO OS HOMENS CONSEGUEM AMOLDAR A PALAVRA DE DEUS


Entre as curiosas contradições dos que aceitam a Bíblia como a palavra de Deus,
podemos citar o caso das alterações do texto, com a finalidade de adaptá-lo a interesses
sectários. Essas alterações vêm de longe e constituem um dos campos mais interessantes
dos estudos bíblicos. Kardec menciona, no capítulo quarto de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, uma referência livre de Jó à reencarnação, que aparece modificada na tradução
católica de Sacy (francesa), na tradução protestante de Osterwald e na tradução da Igreja
Ortodoxa Grega. Nesta última, que é a mais próxima do texto original, o princípio da
reencarnação está evidente.
Outra citação de Kardec, no mesmo capítulo, é de Isaías (Cap. 26, vers. 19) em que
a expressão bíblica é bastante clara: "os teus mortos viverão; os meus, a quem deram vida,
ressuscitarão". Essa passagem, como outras, é adaptada nas traduções, para esconder a
crença dos profetas na reencarnação. O texto de Jó (Cap. 15, vers. 10-14), aparece desta
maneira na versão grega ortodoxa: "Quando o homem está morto, vive sempre; findando-se
os dias da minha existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente".
Temos aí uma síntese admirável do princípio da reencarnação, de pleno acordo com
o Espiritismo: morto o homem, não fica enterrado, mas ressuscita no corpo espiritual, como
ensina o apóstolo Paulo. Ressuscitado, espera no mundo espiritual o momento de voltar à
vida terrena, a fim de prosseguir no seu desenvolvimento. Todas as alterações, como se vê,
caem fragorosamente diante dos estudos críticos da Bíblia, que revelam o verdadeiro
sentido dos textos desfigurantes. E cada alteração corrigida mostra que os textos originais
confirmam os princípios do Espiritismo.
Mas as alterações não se deram apenas no passado. Dão-se agora mesmo, aos
nossos olhos. Examine o leitor a última edição da Bíblia feita pela Sociedade Bíblica do
Brasil e impressa em São Paulo, nas oficinas da "Impress". A tradução portuguesa é a
clássica, de João Ferreira de Almeida, mas "revista e atualizada no Brasil". A revisão
implicou a mudança de palavras, às vezes com a finalidade de enquadrar o Espiritismo nas
condenações bíblicas às práticas da antiga magia. É assim que, em l Samuel, como título do
Cap. 28, encontramos o seguinte: "Saul consulta a médium de En-Dor". E também no texto
a palavra espírita "-médium" foi incluída. Mas no Cap. 18 de Deuteronômio foram
conservadas as expressões antigas: "adivinhos e feiticeiros". Que diria disso o bom padre
Almeida? Como se vê, a palavra de Deus é moldada pelos homens, conforme as suas
conveniências.

15 - EXPRESSÕES E PALAVRAS DESFIGURADAS NA BÍBLIA


Estamos vivendo uma fase de intensa reformulação dos textos bíblicos. A "Palavra
de Deus" vem sendo alterada, modificada e muitas vezes arranjada, de acordo com os
interesses dos homens. Já existe mesmo uma tradução da Bíblia que se diz aceitável pêlos
materialistas. A velha discussão sobre a Vulgata Latina levou os novos tradutores a
recorrerem ao texto hebraico. A tradução clássica do padre Figueiredo, segundo a Vulgata,
é acusada de suspeitas, preferindo-se a do padre Almeida, que como vimos, também já foi
modificada. O religioso esclarecido sabe muito bem que as versões antigas da Bíblia estão
superadas. Mas há os que nada entendem e consideram o velho livro como intocável e
imutável. Esses acreditam cegamente nas pretensas condenações ao Espiritismo. Para eles,
só podemos repetir as palavras de Jerônimo de Praga, quando uma velhinha beata levou
mais uma acha de lenha para a fogueira em que o queimaram: "Sancta Simplicitas".
A tradução dinamarquesa da Bíblia não trata dos dons espirituais. O teólogo
Haraldur Nielsson explica-nos a razão dessa aparente discrepância. Pasmem os defensores
do dogma da graça, que consideram Deus como chefe do partido a que pertencem! O
tradutor categorizado da Bíblia para o islandês, o rev. Nielsson, que fez a tradução a serviço
da Sociedade Bíblica Inglesa, declara: "No texto grego está a palavra Espíritos e não a
expressão Dons Espirituais". E acrescenta: "Em muitas traduções da Bíblia, esta passagem
foi verificada de maneira confusa
apesar de não haver a menor dúvida quanto à verdadeira significação dos termos
gregos do texto original: "epei zelotai este pneumaten".
Nielsson adverte ainda que os tradutores e revisores da Bíblia nem sempre tiveram a
coragem de traduzir com exatidão os textos originais que se referem claramente à
comunicação dos Espíritos. E faz, corretamente, uma grave denúncia: "Os teólogos
prenderam os seus sistemas em pesadas e estreitas cadeias". A Bíblia, estudada segundo o
espírito que vivifica, sem os prejuízos da letra que mata, revela a sua face espirítica e por
tanto mediúnica, como o demonstra o rev. Nielsson e como afirmou Kardec. Trataremos
mais amplamente dos Dons Espirituais.

16-EPISTOLAS TESTEMUNHAM MEDIUNIDADE APOSTÓLICA


A expressão Dons Espirituais, como a expressão Espírito Santo, não aparece nos
textos bíblicos originais. O rev. Nielsson declara, com sua autoridade de teólogo e traduzir
da Bíblia: "Os termos da Vulgata Latina, spiritum bonum, correspondem exatamente aos
dos originais gregos. A Vulgata não fala absolutamente em Espírito e Espírito Santo". Isso,
no tocante ao Novo Testamento, pois no Velho só se fala em Espírito e Espírito de Deus.
Quanto aos Dons Espirituais, a situação é a mesma. Essa expressão aparece apenas nos
textos paulinos, com a palavra grega charismata, que significa literalmente mediunidade, ou
seja, a graça de ser intermediário entre os Espíritos e os Homens.
Os estudos do Rev. Haraldur Nielsson, enfeixados no livrinho O Espiritismo e a
Igreja, recentemente lançado, esclarecem bem este assunto. Nielsson nos mostra, com sua
imensa autoridade, que a palavra transe vem da Bíblia, derivando diretamente de êxtase. Eis
uma das suas afirmações: "O próprio Paulo nos diz que estava freqüentemente em transe. O
apóstolo Pedro conta-nos a mesma coisa". E a propósito de João e sua advertência para
examinarmos "se os Espíritos são de Deus", lembra que Paulo também adverte que: "...
ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz anátema contra Jesus..." (l Cor. XII:3).
A mediunidade era usada entre os judeus e entre os cristãos primitivos, e Nielsson
acentua textualmente: "Segundo a concepção dos tempos apostólicos, os Espíritos podiam
ser bons ou maus, muito evoluídos ou inferiores e atrasados". Isto explica as advertências
apostólicas, pois nas assembléias cristas manifestavam-se também os maus Espíritos,
amaldiçoando o Cristo para defenderem o Judaísmo ortodoxo ou mesmo para defenderem
as religiões politeístas, que também usavam a mediunidade.
Vemos assim como são inúteis os ataques ao Espiritismo em nome da Bíblia, que é
um livro mediúnico. E como os espiritistas e o Espiritismo nada têm a temer da Bíblia. E
preciso apenas mostrar a verdade sobre a Bíblia, separar o que há nela de humano e divino,
não aceitá-la de olhos fechados, dogmaticamente, como "a palavra de Deus", o que é
simples absurdo proveniente de épocas de fanatismo. A Bíblia é muito valiosa para os
espiritistas estudiosos, porque é o maior e mais vigoroso testemunho da verdade espírita na
Antiguidade. ''

l7 - COMO OS APÓSTOLOS FAZIAM AS SUAS SESSÕES ESPÍRITAS


Qual era o culto dos cristãos na Igreja Primitiva? Que responda o apóstolo Paulo, na
l Epístola aos Coríntios. Nas suas instruções para a celebração da ceia, (XI: 17-34), Paulo
nos mostra que esta era simbólica e memorial. Não se tratava propriamente de uma ceia,
mas de uma cerimônia religiosa, e os participantes já deviam ter tomado em casa o seu
alimento, para não perturbarem a reunião. Comia-se o pão e bebia-se o vinho. Um pequeno
pedaço de pão e uma pequena taça de vinho, em memória do Senhor. Veja-se a advertência
do vers. 34: "Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo".
A cerimônia simbólica de pão e de vinho não era privativa dos cristãos. Os próprios
cananitas a usavam, a ceia maçônica primitiva se constituía dela, e as religiões idólatras a
praticavam para os pagãos; o pão representava a deusa Ceres e o vinho o deus Dionísio.
Para os cristãos, o pão representava a matéria e o vinho o espírito. A união do espírito com
a matéria produzia a "comunhão", que tanto pode ser a encarnação do espírito quanto a
incorporação, o nascimento do ser humano ou a união de espírito como o profeta para a
transmissão da comunicação mediúnica.
Os profetas eram chamados "pneumáticos", na expressão grega do texto, que quer
dizer: cheios de espírito. Havia dois tipos de espíritos: os de Deus, que eram bons, e os do
Mundo, que eram maus. A respeito das comunicações, Paulo é incisivo:
"A manifestação do espírito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso".
Reunidos os pneumáticos à mesa, em ordem, não se devia permitir o tumulto. Paulo avisa:
"Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem". Do Cap. XI ao
XIV, Paulo ensina como se fazia a reunião "pneumática" da Igreja Primitiva, e essas regras
são as mesmas das sessões mediúnicas de hoje.
O dogmatismo desfigurou a pureza do texto, através de interpretações errôneas ou
capciosas. Mas, apesar disso, o texto conserva o sentido verdadeiro, mesmo nas traduções
atualizadas. As citações acima são da tradução de Almeida, na recente edição da Sociedade
Bíblica do Brasil, na qual foi introduzida a palavra "médium". O estudo das expressões de
Paulo nessa epístola, à luz dos estudos históricos e em confronto com todo o contexto
escriturístico, mostra que os apóstolos e os cristãos primitivos faziam sessões espíritas. E
mostra mais: que nessas sessões, como nas atuais, manifestavam-se espíritos bons e maus;
aqueles, dando instruções e estes, necessitando de orientação espiritual. Para esconder sua
verdade, foram necessárias as "pesadas e estreitas cadeias" de que fala o rev. Haraldur
Nielsson em seu livro O Espiritismo e a Igreja.

18 - DEUS MORRE QUANDO OS HOMENS SE APEGAM À LETRA QUE

MATA


Revistas inglesas, norte-americanas, alemãs e francesas vêm há meses anunciando a
morte de Deus. Uma revista brasileira aproveitou o assunto e os dados das revistas
estrangeiras. Não há nenhuma novidade no assunto, que outras publicações do mundo
inteiro vão repetindo. Nem se trata de campanha contra a idéia de Deus, como pretendem
alguns religiosos de vistas curtas. Simples questão de interesse jornalístico. Mas a verdade
é que tudo começou com os teólogos, os doutores da ciência de Deus, que já não sabem
mais o que fazer com essa ciência.
A existência de ateus e a propagação do ateísmo não são novidades. Os ateus já
dominam politicamente mais da metade do mundo. Ideologicamente representam a maioria
das pessoas cultas. Para todos eles, Deus já morreu há muito tempo. As igrejas são
importantes para devolver-lhes a fé. Esse o motivo do desespero dos teólogos, que chegam*
à conclusão de que Deus está morrendo e é necessário salvá-lo. Mas é preciso não
confundir Deus com a concepção antropomórfica de Deus. O que está morrendo, e ninguém
jamais conseguirá reabilitá-la, é essa concepção, oferecida ingenuamente pêlos pregadores
bíblicos a um mundo que não vive mais a fase agrária da civilização judaica antiga.
Os fanáticos da Bíblia não podem evitar a morte de Deus. Quanto mais falarem e
escreverem sobre Deus, mais o afastarão do espírito arejado dos homens modernos. Porque
a idéia de um Deus semelhante ao homem só podia servir para criaturas ingênuas, numa
fase primária da evolução humana. Enquanto os teólogos, os pregadores, os religiosos em
geral, não se convencerem de que as Escrituras Sagradas não são tabus e devem ser
estudadas no seu espírito, sem apego à letra, nada poderão fazer contra o ateísmo.
A concepção bíblica de Deus é alegórica, como já afirmamos numerosas vezes. O
Livro dos Espíritos ensina isso desde as suas primeiras páginas. A própria Bíblia proíbe que
façamos imagens de Deus, pois essas imagens são perecíveis. Quando elas morrem, Deus
pode morrer na alma desolada dos crentes. Se quisermos evitar a morte de Deus na
consciência humana, evitemos o literalismo bíblico e a idolatria. Uma imagem mental de
Deus é também um ídolo perecível, e quem a cultua não é menos idólatra que os adoradores
de imagens materiais. A concepção espírita de Deus está acima dessas controvérsias
teológicas. O Deus espírita não é um ídolo, mas aquela realidade que, como dizia
Descartes, está na consciência do homem como a marca do artista na sua obra.

19 - JESUS PROCLAMOU EM NAZARÉ O ANO AGRADÁVEL AO SENHOR

Jesus declarou, na sua prédica primeira na Sinagoga de Nazaré, ao ler Isaías e
interpretá-lo: "O espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os
pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos,
para por em liberdade os oprimidos e proclamar o ano aceitável do Senhor". É o que consta
dos versículos 18a 19 do Cap. IV do Evangelho de Lucas, tradução de Almeida, revista e
atualizada no Brasil. Outras traduções mencionam, em lugar de "ano aceitável" o "ano
agradável ao Senhor".
Esse ano era uma tradição judaica a que o Levítico se refere de maneira minuciosa
(XXV: l-34). Havia o ano Sétimo, o Sábado do Senhor, por analogia com a semana que era
o ano do descanso da terra cultivada. E havia o Ano do Jubileu, ou Qüinquagésimo, que era
o da Justiça, caracterizado na proclamação de Jesus. De cinqüenta em cinqüenta anos se
procedia a uma verdadeira reforma da estrutura agrária do Estado para o reequilíbrio das
condições sociais, com libertação dos escravos. Jesus serviu-se dessa tradição para anunciar
a sua missão como a proclamação do Ano Agradável ao Senhor, ou seja, de uma nova fase
da vida na Terra.
Um famoso pastor, o rev. Stanley Jones, chamado o Cavaleiro do Reino de Deus,
estudou essa tradição em suas ligações com o Cristianismo dos primeiros tempos,
demonstrando que os cristãos primitivos queriam realmente estabelecer na Terra o Ano
Agradável ao Senhor. A idéia do Novo Ano como oportunidade de renovação, de volta do
homem para Deus e de sujeição das leis humanas às leis de Deus vem das próprias
Escrituras. Em O Livro dos Espíritos, de Kardec, obra básica do Espiritismo, essa idéia se
traduz num esforço profundo de renovação pessoal e social, afirmando os Espíritos que a
função da doutrina é renovar o mundo para aproximá-lo das leis de Deus cujo centro de
gravitação é a "Lei de Justiça, Amor e Caridade", estudada num capítulo especial.
Aproveitemos a oportunidade do Novo Ano para ler esse capítulo do Livro III de O
Livro dos Espíritos e meditar sobre as palavras de Jesus na proclamação de Nazaré. O
Cristianismo é o foco central de um processo histórico que vem do Judaísmo e se
desenvolve no Espiritismo, segundo a promessa de Jesus no Evangelho de João. A
finalidade do Espiritismo é estabelecer na Terra o Ano Agradável ao Senhor, com a
substituição do egoísmo e da ambição do homem velho pelo amor e a fraternidade do
homem novo. Que o Novo Ano nos ajude nessa renovação cristã.

20 - A GÉNESE EXPLICADA A LUZ DOS PRINCÍPIOS ESPÍRITAS


O Espiritismo rejeita a concepção bíblica da gênese ou procura explicá-la? Como
temos dito, repetindo afirmações de Kardec e Denis, o Espiritismo é a grande síntese do
conhecimento. Originada pelo desenvolvimento histórico do Cristianismo, essa síntese
obedece à orientação do Cristo: não vem destruir ou negar, mas confirmar e explicar. No
caso da criação do mundo e do homem, segundo a Bíblia, ele confirma a realidade na
alegoria e dá a explicação desta. Impossível tomar-se hoje a Bíblia ao pé da letra. É
necessário penetrar o sentido dos seus símbolos, dos seus mitos, das suas alegorias.
No capítulo quatro de A Gênese, Kardec estuda o problema à luz das conquistas
científicas do seu tempo. Mostra que o poema bíblico da Criação é uma explicação
figurada, à semelhança da gênese de todas as religiões antigas, e conclui: "De todas as
antigas gêneses, a que mais se aproxima dos dados científicos modernos, apesar dos seus
erros, hoje evidentemente demonstrados, é incontestavelmente a de Moisés". Alguns dos
seus erros, acrescenta, são mais aparentes do que reais, decorrendo de falsas interpretações
de palavras nas traduções, de modificações semânticas ao longo dos milênios e de se tomar
ao pé da letra as suas expressões e formas alegóricas. O Livro dos Espíritos, no capítulo
primeiro de sua terceira parte, traz um estudo intitulado "Considerações e concordâncias
bíblicas referentes à Criação", que esclarece bem este assunto. No capítulo décimo segundo
de A Gênese, reproduzindo o texto bíblico, Kardec o estuda em relação aos dados
científicos, oferecendo um quadro comparativo da alegoria dos seis dias da criação com os
espíritos da formação geológica determinados pela Ciência. Acentua, porém, que a
concordância não é rigorosa e não pode ser tomada como tal, mas basta para provar a
intuição da realidade na alegoria bíblica.
Kardec conclui o capítulo afirmando: "Não rejeitemos, pois, a gênese bíblica, mas
estudemo-la, como estudamos a história da origem dos povos". Hoje, os próprios teólogos
católicos e protestantes estão endossando as explicações espíritas. Há uma revolução
teológica em marcha, que vem apenas confirmar a legitimidade da interpretação espírita das
Escrituras. Só os crentes fanáticos da Bíblia, os literalistas amarrados ao texto, ainda
investem contra o Espiritismo de Bíblia em punho.

21 - COMO DEUS TIROU O HOMEM DO BARRO OU PÓ DA TERRA


Todos conhecemos a alegoria bíblica da formação do homem, mas nem todos
sabemos que, para muita gente, essa alegoria representa uma verdade incontestável, uma
realidade. Diz a tradução de Almeida, no Cap. II do Gênesis, vers. 7: "E formou o Senhor
Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida: e o homem foi
feito alma vivente". A mesma tradução, na edição revista e atualizada da Sociedade Bíblica
do Brasil, corrige "narizes" para "narinas" e faz outras pequenas alterações. Na tradução de
Figueiredo "o pó da terra" é substituído pelo "barro da terra". De qualquer maneira, o fato
essencial é o mesmo em todas as versões bíblicas, ou seja: Deus formou o homem da terra e
assoprou-lhe a vida nas narinas.
O Espiritismo não pode admitir que essa alegoria, aliás muito bela e expressiva, seja
tomada ao pé da letra. Kardec admite, no Livro dos Espíritos, que Adão tenha realmente
existido, como possível sobrevivente de um cataclismo na região citada pela Bíblia. Mas
adverte que é mais razoável considerá-lo como um mito ou uma alegoria, "personificando
as primeiras idades do mundo". A espécie humana não começou por um só homem. Surgiu
na Terra pelo encadeamento natural da evolução dos seres. Em A Gênese, Kardec estuda a
posição do homem na escala animal e declara: "Por mais que isso possa ferir o seu orgulho,
o homem deve resignar-se a ver no seu corpo material o último elo da animalidade na
Terra". Há contradição, neste ponto, entre a Bíblia e o Espiritismo?
Kardec responde acertadamente que não. Porque o Espiritismo apenas explica a
alegoria bíblica, dá-lhe a necessária interpretação, esclarece-nos quanto ao espírito da letra,
em vez de escravizar-nos à "letra que mata". Os que, pelo contrário, se apegam à letra,
acabam fazendo da Bíblia um livro absurdo, contraditório e inaceitável para as pessoas de
discernimento. Os Espíritos esclarecem bem esta questão, como vemos na pergunta 47 de O
Livro dos Espíritos.
Kardec pergunta: "A espécie humana estava entre os elementos orgânicos do globo
terrestre?" E a resposta é a seguinte: "Sim, e veio a seu tempo; foi isso que deu motivo a
dizer-se que o homem foi feito do limo da terra". Como se vê, por esta clara resposta, a
obra de Deus não se assemelha aos grosseiros trabalhos humanos. Deus cria através de
processos cósmicos ainda inacessíveis ao nosso entendimento. Os livros bíblicos não
poderiam tratar da criação do homem senão de forma alegórica.

22 - EVA E A COSTELA ADÃO: UM MITO DE ORIGEM SOCIAL


Acreditam alguns comentaristas e exegetas que a alegoria bíblica da criação da
mulher tinha uma finalidade social: incutir no homem o respeito pela companheira tirada da
sua própria carne. A verdade, ao que parece, é outra. Esse objetivo seria melhor atingido se
Deus criasse o casal ao mesmo tempo. A Bíblia deu preferência ao homem e colocou a
mulher em segundo plano. O motivo deve ser a necessidade de atender aos preconceitos da
época. Mas é incrível que até hoje, no mundo inteiro, multidões de pessoas acreditem que
Adão dormiu sozinho e acordou acompanhado de Eva, porque Deus lhe tirou uma costela e
dela fez a primeira mulher.
A passagem figura no Cap. II do Gênesis, versículos 18 a 25. Note-se que Deus já
havia criado todas as coisas, o mundo já estava feito e povoado de animais, com Adão
solitário no Éden, quando a mulher foi criada. Tudo concorre para a sua situação de
dependência e subserviência das sociedades patriarcais. O próprio Moisés não
compreenderia a mulher criada ao mesmo tempo que o homem. Por isso, o espírito-guia do
povo hebreu, que na verdade era o deus-familiar de Abrão, Isaac e Jacó, lançou mão dessa
alegoria ingênua e poética, proveniente de lendas folclóricas.
Quem estuda, na História das Religiões e na Antropologia cultural, o problema das
cosmogonias antigas, não tem dúvida quanto à natureza lendária e alegórica dessa
passagem bíblica. Basta recordar os processos mitológicos de criação, em que os próprios
deuses eram tirados do corpo de outros deuses e as criaturas humanas também, como no
caso muito conhecido da descendência de Brama, na índia. Aceitar, pois, literalmente, o
relato bíblico da criação da mulher é deixar de lado a nossa faculdade de pensar, que Deus
nos deu para que seja usada e desenvolvida cada vez mais.
A situação de dependência da mulher se justifica ainda com a alegoria do pecado
original, pois é a mulher, criatura inferior, que põe o homem a perder. O Cristianismo veio
modificar essa situação, típica das sociedades patriarcais de toda a Antiguidade, ao
valorizar a mulher no plano espiritual, como vemos no Novo Testamento, a começar do
nascimento do Messias. O Espiritismo, que representa o desenvolvimento natural do
Cristianismo, completa essa modificação, ao revelar que homem e mulher só existem como
expressões da vida nos planos inferiores.
O espírito não tem sexo e se encarna neste ou naquele sexo de acordo com as suas
necessidades evolutivas. Por isso Jesus ensinou que os espíritos "nem se casam nem se dão
em casamento, pois são como os anjos do céu", como vemos na passagem de Mateus sobre
a ressurreição (Mateus, 22:23-33). E Paulo sustenta o mesmo princípio, afirmando que em
Cristo, na vida espiritual que ele nos oferece: "não há nem homem nem mulher". (Gaiatas,
3:28).

23 - ALEGORIA DA QUEDA DO HOMEM NA BÍBLIA

O dogma da queda do homem é sustentado no campo religioso como um dos
mistérios de Deus, impenetrável à inteligência humana. Seu fundamento bíblico é o Cap. III
do Gênesis. Todos conhecem a lenda poética da árvore proibida, no meio do jardim do
Éden, com a serpente demoníaca (a píton grega) enganando Eva, que leva Adão ao pecado
original da desobediência. Mas em virtude do dogmatismo fideísta das religiões, poucas
pessoas admitem a natureza alegórica desse conto ingênuo. O símbolo está evidente, à flor
da pele. Mas os que consideram a Bíblia como a palavra de Deus não podem admiti-lo.
Entendem a alegoria como realidade divina, tomando-a simplesmente ao pé da letra.
Kardec explica em A Gênese, Cap. XII, toda a simbologia dessa passagem bíblica:
Adão é a personificação da Humanidade e sua falta representa a fragilidade humana; a
árvore da vida é o símbolo da vida espiritual, que desenvolve a consciência humana e o
livre-arbítrio da criatura; o fruto proibido está no meio do jardim de delícias, porque é a
tentação dos prazeres materiais; a desobediência de Adão e Eva é a violação das leis de
Deus pela concupiscência do homem; a serpente é a imagem da perfídia, da maldade que
incita os outros ao erro.
Pergunta Kardec: "Por que impor à fé ingênua da credulidade infantil, como
verdades, alegorias tão evidentes, falseando O seu julgamento e fazendo-as mais tarde
encarar a Bíblia como um conjunto de fábulas absurdas?" Além disso, Kardec estuda o
verdadeiro sentido dos termos bíblicos em sua origem hebraica e estabelece comparações
entre o texto sagrado e conhecidas alegorias mitológicas. A forma das alegorias bíblicas é
bela e o seu sentido é profundo. Mas essa beleza e essa profundidade são transformadas em
absurdo e ridículo pela interpretação literal.

24 - MOSTRA A BÍBLIA QUE ADÃO NÃO FOI O PRIMEIRO HOMEM


Expulso do Éden, o casal primitivo teve dois filhos: Caim e Abel, segundo nos
relata o Cap. IV do Gênesis, versículos l a 16. Estava assim iniciada, segundo as religiões
dogmáticas, a raça humana na Terra. Mas a própria bíblia desmente essa suposição, ao
declarar, logo no vers. 2, que "Abel foi pastor e Caim lavrador". Nos versículos 14 e 15
vemos Caim temer que "outros" o matem e o Senhor "pôs um sinal em Caim, para que não
o ferisse de morte quem quer que o encontrasse". E o versículo 16 nos oferece esta preciosa
informação: retirando-se da presença do Senhor o renegado Caim "habitou na terra de
Node, ao oriente do Éden".
Não precisamos sair dos limites desse capítulo 4 do Gênesis para ver que Adão e
Eva não iniciaram a raça humana, mas apenas a sua própria descendência, num mundo já
povoado há muito tempo. Os versículos seguintes confirmam isso plenamente. Que faz o
Espiritismo em face deste problema? Rejeita e condena a Bíblia como falsa? Não. Pelo
contrário, procura interpretá-la em espírito e verdade, em vez de apegar-se às contradições
e aos absurdos da "letra que mata".
No capítulo XI de A Gênese, Kardec explica que a chamada raça adâmica foi uma
das últimas a surgirem na Terra. "O Gênesis no-la mostra, - diz ele, - desde o seu início,
industriosa, apta para as artes e as ciências, sem haver passado pela infância intelectual, o
que não é próprio das raças primitivas, mas concorda com a opinião de que ela se
compunha de Espíritos já avançados". Caim era lavrador, Abel era pastor, e logo mais
veremos Caim casar-se (com quem?) ter filhos e construir uma cidade. Tratemos agora do
fratricídio de Caim, cujo símbolo é também dos mais significativos.
Vemos na Bíblia que Caim matou Abel por ciúmes de Deus. Ambos haviam
oferecido ao Senhor as primícias de seus trabalhos; Caim, os frutos da terra, Abel, os
gordos rebentos do seu rebanho. O que mostra que já viviam na era das civilizações
agrárias. Mas o Senhor não gostou da oferta vegetal, preferindo a de carne. Como todos os
deuses antigos, o Deus Único da Bíblia também gostava mais de carnes que de frutas.
A alegoria é evidente: Caim representa o egoísmo humano de uma raça em
desenvolvimento, Abel é a vítima inocente desse egoísmo feroz; Deus pune Caim, mas não
o aniquila, por que ele precisa continuar progredindo; e o Deus em causa não é o verdadeiro
Deus, mas um guia espiritual, que representa o Senhor perante a ingenuidade desse povo
nascente. É inacreditável que ainda hoje nos queira impingir essas alegorias em seu sentido
liberal!

25 - CAIM FUNDOU UMA CIDADE SEM TER QUEM HABITÁ-LA!


Com quem se casou Caim, ao retirar-se para a terra do Node? Se Adão e Eva eram
as primeiras criaturas humanas. Caim era a terceira. Não haveria mais gente em toda a
Terra. Mas a Bíblia nos conta o seguinte: "E coabitou Caim com sua mulher; ela concebeu
e deu à luz Enoque. Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque, o nome de seu filho".
(Gênesis, IV: 17). Não há explicação teológica que possa resolver as contradições do texto.
É evidente que Caim não era a terceira criatura da Terra, mas apenas o primeiro
descendente de uma nova raça, que surgia num mundo já povoado e evoluído.
A mulher de Caim era de outra raça, do povo que habitava a terra de Node. Os
costumes da época ressaltam de todo o texto. Ao construir uma cidade, Caim lhe deu o
nome do filho, homenagem comum nos tempos antigos e ainda hoje comum entre os
pioneiros de zonas novas. E com que povo ia Caim povoar a sua cidade? Pensaria em fazelo
apenas com a sua geração? Claro que isso seria absurdo. Era o povo de Node que teria de
habitar a cidade de Caim.
O fato mesmo de Caim ser pastor e Abel lavrador já nos mostra que Adão e Eva
viviam numa civilização constituída. Se já havia profissões, divisão do trabalho,
especialização da produção e até mesmo fundação de cidades, é evidente que o mundo não
estava começando, mas já havia começado há muito tempo. Não se pode ajeitar as coisas,
diante destes dados do texto. O que se pode e deve fazer é interpretar o texto, desvendar-lhe
o sentido, decifrar-lhe o símbolo como o fez Kardec.
A raça adâmica era uma nova raça que surgia na Terra, proveniente de migrações
espirituais. Sua missão era auxiliar o desenvolvimento do planeta, ajudar os seus habitantes
primitivos a se elevarem espiritualmente. Não surgia milagrosamente, mas de forma
natural, por descendência biológica de outras raças mais aperfeiçoadas. Entretanto, como
era necessário preservar a condição evolutiva dessa raça, a fim de que ela não se perdesse
na animalidade terrena, a Bíblia usou o mito da criação direta de Adão e Eva por Deus.
A descendência de Caim e a genealogia do povo hebreu, que vêm nos versículos
seguintes da Bíblia, desse mesmo capítulo IV: 17-26, e do capítulo V: l -32, provam
precisamente o que acabamos de acentuar. Os casamentos ali referidos não podem ser
explicados sem a existência de outros povos, na Terra, como não se pode admitir que a
corrupção do gênero humano tenha ocorrido na descendência de Adão. Insistir na aceitação
literal dessas coisas, a pretexto de que a Bíblia é "a palavra de Deus", só serve para
desmoralizar a Bíblia e a própria religião. Já é tempo das criaturas pensantes examinarem
problemas tão sérios com maior seriedade.

26 - OS FILHOS DE DEUS CASARAM COM AS FILHAS DOS HOMENS

Como se multiplicou a raça adâmica na Terra? O capítulo VI do Gênesis nos conta
isso. E os versículos de l a 7 confirmam plenamente que Adão não era o primeiro homem
nem Eva a primeira mulher. Vemos no versículo 2 a distinção entre os adâmicos, chamados
filhos de Deus, e as suas esposas, chamadas filhas dos homens. Explica, pois, a própria
Bíblia, o casamento de Caim. O versículo 4 é explícito: "Ora, naquele tempo havia gigantes
na Terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as
quais lhes deram filhos; estes foram valentes varões de renome na Antiguidade".
Vemos assim que a Terra estava povoada de gigantes, ou seja, dos descendentes dos
homens primitivos com que Deus a povoara, muito antes da vinda da raça adâmica. Por que
a Bíblia os chama de gigantes? As pesquisas científicas demonstram que os homens
primitivos eram gigantes. Muitas raças conservavam ainda proporções gigantescas.
Ligando-se a isso a influência da tradição mitológica e os excessos de imaginação, tudo se
explica racionalmente. Um exemplo histórico nos auxilia a compreender esses supostos
mistérios: os portugueses (filhos brancos do Deus Europeu) casaram-se com as índias
(filhos dos homens primitivos no Brasil) e deles nasceram os homens que continuariam a
raça de gigantes do Planalto de Piratininga (os Bandeirantes). Os descendentes de Adão e
Eva não constituíram, pois, o gênero humano, mas apenas contribuíram para o seu
desenvolvimento na Terra. Como ensina Kardec, em A Gênese, Cap. XI :40, a raça
adâmica veio impulsionar o progresso. E todo progresso acarreta a superação de costumes e
tradições, a substituição de valores antigos por novos, mudanças profundas nas formas de
relações humanas, com fases intermediárias de aparente anarquia, que são sempre
consideradas como de corrupção de costumes. Daí o dogma bíblico da "corrupção do
gênero humano", provocando a ira de Deus e o castigo de Deus, por motivo de dissolução
de costumes, as catástrofes geológicas, as trombas d'água e as inundações que dizimam em
geral criaturas inocentes, em zonas sempre acusadas de dissolutas.

27 - DILUVIO: CATÁSTROFE PARCIAL ADAPTADA A UMA ANTIGA
LENDA


A lenda do dilúvio, que encontramos em Gênesis: VII e VIII, é uma dessas
passagens bíblicas que só podem ser tomadas ao pé da letra pelo fanatismo e a ignorância.
Pouco importa que durante séculos as religiões cristãs, com seus doutores e sacerdotes,
tenham sustentado a realidade literal dessa lenda. A verdade histórica é apenas esta: a lenda
do dilúvio corresponde a um dos arquétipos mentais atualmente estudados pela psicologia
profunda. Os estudos de Karl Jung a respeito são bastante esclarecedores. Mas o arquétipo
coletivo, que corresponde no plano social aos complexos psicanalíticos do plano individual,
não é uma abstração. Pelo contrário, é uma realidade psíquica enraizada nos fatos
concretos. O dilúvio bíblico, por isso mesmo, tem duas faces: uma é a realidade histórica, a
ocorrência real da catástrofe; outra é a interpretação alegórica, enraizada no arquétipo
coletivo e que o texto sagrado nos oferece.
O Livro dos Espíritos explica o problema do dilúvio através dessas duas faces, a
real e a lendária. É o que vemos nos seu item 59, nas "Considerações e Concordâncias
Bíblicas referentes à Criação", que se podem resumir nestas palavras: "O dilúvio de Noé foi
uma catástrofe parcial, que se tomou pelo cataclismo geológico". Aliás, essa afirmação de
Kardec foi posteriormente confirmada pelas investigações científicas. O arqueólogo inglês
sir Charles Leonardo Woolley descobriu ao norte de Basora, próximo ao Golfo Pérsico, ao
dirigir escavações para a descoberta dos restos da cidade de Ur, as camadas de lama do
dilúvio mencionado na Bíblia. Pesquisas posteriores completaram a descoberta. O dilúvio
parcial do delta dos rios Tigre e Eufrates é hoje uma realidade atestada pela Ciência. Foi
esse dilúvio, ou seja, essa inundação parcial, que serviu de motivo histórico para a lenda
bíblica.
Como acentua Kardec, nada perdeu com isso a Bíblia, nem a Religião. Mas ambas
são diminuídas quando o fanatismo insiste em defender um absurdo, quando teima em dizer
que Deus afogou o mundo nas águas de uma chuva de quarenta dias e fez Noé salvar-se,
com a própria família e as privilegiadas famílias dos animais de cada espécie existente, para
que a vida pudesse continuar na Terra. Sustentar como realidade histórica a figuração
ingênua de uma lenda, conferindo-lhe ainda autoridade divina, é ridicularizar o sentimento
religioso e minar as bases da concepção espiritual do mundo. Foi esse processo infeliz de
ridicularização que levou o nosso tempo ao materialismo e à descrença que hoje o
dominam.
Que diriam os fanáticos da "palavra de Deus" ao saberem que o dilúvio bíblico tem
por antecessores o dilúvio babilônico de Gilgamesch, historicamente chamado de "o Noé
babilônico", e o dilúvio grego de Deucalião? O Espiritismo esclarece esse problema,
mostrando que o "arquétipo coletivo" de dilúvio é responsável pelo seu aparecimento em
diversos capítulos da História das Religiões, e até mesmo na pré-história, entre os povos
selvagens. É esse um dos pontos mais curiosos da psicologia das Religiões.

28 - ADÃO NÃO FOI O PRIMEIRO HOMEM, MAS APENAS O PRIMEIRO
HEBREU


O versículo quarto do capítulo sexto do Gênesis informa: "Ora, naquele tempo havia
gigantes na Terra". O tempo referido é o da criação do homem. Se havia gigantes, Adão
não era o primeiro homem, tanto mais que a própria Bíblia nos diz que os "filhos de Deus",
que eram Adão e sua descendência, casavam-se com as "filhas dos homens". É o que
vemos no versículo dois do Cap. VI: "Vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens
eram formosas, tomaram para si mulheres", e ainda no versículo quarto, já acima citado: "e
também depois, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes
deram filhos".
Verifica-se no texto uma dubiedade, parecendo haver uma diferença entre os
gigantes e os homens, mas não se poderia explicar as "filhas dos homens", se não fossem
filhas dos gigantes. Essa dubiedade se explica pela Mitologia. Os gigantes, na verdade, são
figuras mitológicas que aparecem no texto bíblico, da mesma maneira que nos textos
hindus, egípcios e na "Gigantemaquia", poema que se considera como fragmento
Visão Espírita da Bíblia J. Herculano Pires.
Extraviado da "Teogonia" de Hesiodo. A Bíblia herdou dos antigos livros mesopotâmicos a
lenda mitológica dos gigantes. Esse fato comprova a tese espírita da raça adâmica, que na
verdade nada mais é do que o povo hebreu.
O exame do texto bíblico, à luz da Antropologia Cultural e da Mitologia, prova que
Adão é apenas o primeiro hebreu e não o primeiro homem. A lenda de Adão e Eva é o
capítulo mitológico da História dos Judeus, como a lenda grega de Deucalião e Pirra é o da
História dos Hebreus. As duas histórias se confundem, de tão semelhantes, no caso do
dilúvio. Assim como Heleno foi o primeiro homem para os gregos, Adão foi o primeiro
para os judeus. A falta de conhecimento histórico e a falsa interpretação teológica da Bíblia
transformaram uma antiga lenda mitológica em verdade revelada. O Espiritismo não
endossa esse absurdo.
Curioso notar que Deucalião, o Noé grego, e Pirra, sua mulher, tiveram três filhos,
como aconteceu com Adão e Eva e depois com Noé. Em todas essas coincidências
comprova-se a origem mitológica e a presença dos arquétipos coletivos nas passagens
supostamente históricas da Bíblia. Querer sustentar a realidade desses relatos ingênuos e
impô-los ao povo como verdade divina é querer confundir religião com superstição. O
Espiritismo prefere esclarecer esses problemas à luz da razão.

29 - O PAPEL DOS PROFETAS NA BÍBLIA E NO CULTO DA IGREJA
PRIMITIVA


Esclarecimentos dados pelas epístolas de Paulo - Profetas em Israel e na Igreja
Cristã, e sibilas, oráculos e pitonisas, nos meios pagãos - João, o evangelista, e os Espíritos.
Um dos problemas mais discutidos no mundo cristão, desde o aparecimento do Espiritismo,
é o profetismo. O que era o profetismo bíblico, e o que era por sua vez, o profetismo
apostólico? Por que, na Igreja Primitiva, ao lado dos vários responsáveis pelo movimento
cristão, havia os profetas? E o que faziam esses profetas, do que estavam eles incumbidos?
O rev. Robert Hastings Nichols, em suas História da Igreja Cristã, publicada em versão
portuguesa pela Casa Editora Presbiteriana, lembra que podemos ter uma idéia das práticas
da Igreja Primitiva pelas epístolas de Paulo, "especialmente as enviadas aos Coríntios".
É precisamente o que dizem os estudiosos espíritas do assunto. No seu livro De cá e
de Lá, publicado nesta capital há cerca de quinze anos, pela livraria da União Federativa
Espírita Paulista, o prof. Romeu do Amaral Camargo, ex-diácono da l Igreja Presbiteriana
da Capital, estuda o problema com base nas epístolas de Paulo, especialmente na l
Coríntios. Para o rev. Nichols, havia na Igreja Primitiva, dois tipos de culto, sendo um "o da
oração" e outro o da refeição em comum, a chamada "Festa do Amor". Quanto ao primeiro,
diz o rev. Nichols: "O culto era dirigido conforme o espírito os movia no momento. Faziam
orações, davam testemunho, ministravam certos ensinos, cantavam saímos". O que seriam
esses "certos ensinos", e como seriam ministrados? Noutro trecho, o rev. Nichols levanta
uma pontinha do véu: "O Novo Testamento fala de oficiais que se ocupavam do ministério
da pregação e do ensino. São conhecidos como apóstolos, profetas e mestres. O nome de
apóstolo não era restrito aos companheiros de Jesus, mas pertencia também a outros
pioneiros do Evangelho, que levavam as boas novas aos novos campos. Os profetas,
mestres e doutores, esclareciam o significado dos Evangelhos às igrejas. Todos esses
exerciam seus ofícios, não pela indicação de qualquer autoridade, mas porque revelavam
estar habilitados para tais ofícios, pêlos dons do Espírito Santo".
Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, estudando a passagem referente à
entrevista de Nicodemos com Jesus acentua: "O texto primitivo diz apenas 'da água e do
espírito', enquanto certas traduções substituíram Espírito por Espírito Santo, o que não é a
mesma coisa. Este ponto capital sobressai dos primeiros comentários feitos sobre o
Evangelho, o que um dia será analisado sem equívoco possível". Kardec cita ainda a
tradução clássica de Osterwald, conforme o texto primitivo que diz: "Quem não renascer da
água e do espírito".
A expressão Espírito Santo, que poderia, pois, levar confusões à compreensão do
texto, deve ser substituída por Espírito, conforme o original do texto grego primitivo, e tudo
se esclarecerá. Os dons do Espírito, dons que podem ser movidos no profeta por um espírito
que seja santo ou não, eram os elementos dominantes da Igreja Primitiva. E tanto assim,
que o apóstolo João, também evangelista, advertiu os crentes, na sua primeira epístola:
"Caríssimos, não acrediteis em todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus".
(Cap. 4, vers. l -3).
Estudando os caps. 12 e 14 da l Epístola aos Coríntios, de Paulo, o prof. Romeu do
Amaral Camargo declara: "Esses dois capítulos encerram matéria de grande importância e
real utilidade para os assistentes de uma sessão espírita, e também indicam claramente o
procedimento a ser observado pêlos que participam de uma sessão". E assim é, realmente.
De tal maneira o apóstolo Paulo se refere aos dons mediúnicos dos profetas, que essa
epístola se torna uma espécie de orientação para os trabalhos práticos de Espiritismo. Por
ela se vê, com absoluta clareza, que o culto da oração incluía os ensinos proféticos, e que
estes nada mais eram do que as manifestações mediúnicas.
O Espiritismo veio esclarecer o papel dos profetas na antiguidade, que era
semelhante ao das sibilas e pitonisas. Espinosa já havia chegado à conclusão, nos seus
famosos estudos sobre as Escrituras, que o profetismo não era um privilégio dos judeus,
mas uma qualidade do homem, existente em todo o mundo antigo, como em todo o mundo
moderno. Mas aquilo que Espinosa não podia explicar senão como efeito da imaginação,
comparando a inspiração dos profetas à dos poetas, o Espiritismo veio explicar mais tarde,
no cumprimento das promessas do Consolador, restabelecendo as coisas em seu verdadeiro
sentido.
O profetismo bíblico e o apostólico eram simplesmente o uso da mediunidade,
como hoje se faz nas sessões espíritas. E assim como, na antiguidade, havia profetas em
Israel e na Igreja Primitiva, enquanto no mundo pagão existiam sibilas, pitonisas e oráculos,
assim, no mundo moderno, há médiuns no Espiritismo, e há "cavalos", "tremedores",
"possessos" e "convulsionários", em organizações religiosas que não seguem os princípios
do Consolador ou Espírito da Verdade. O velho problema do profetismo está perfeitamente
esclarecido, graças aos estudos espíritas.

30 –SENTIDO COSMOSSOCIOLÓGICO DA LENDA BÍBLICA DO DILÚVIO


Já vimos, que o dilúvio bíblico foi apenas uma inundação parcial, no delta dos rios
Tigre e Eufrates, o que está comprovado pelas escavações arqueológicas. Vimos que Adão
e Eva são apenas o mito alegórico do aparecimento da raça hebraica, e que Jeová não é o
Deus único do Novo Testamento, mas apenas o deus-familiar do clã de Abrão, Isaac e Jacó.
Tudo nos mostra, numa análise cultural da Bíblia, que ela deve ser interpretada na
perspectiva das civilizações agrárias, a que realmente pertence. A lenda do dilúvio, que é
também um mito agrário e ocupa todo o espaço dos capítulos 6a 10 do Gênesis, confirma
plenamente o caráter local e racial do livro que as igrejas cristãs consideram como "palavra
de Deus".
As civilizações agrárias, como acentuou Durkheim a respeito das cidades gregas,
explicam-se pela Cosmossociologia. O cosmos participa das estruturas sociais, pois o
homem está ainda profundamente ligado à Natureza, entranhado na Terra. Por isso vemos,
no dilúvio bíblico, Deus falando a Noé, este procurando embarcar todos os seres vivos na
arca e servindo-se, depois, do corvo e da pomba para saber se o dilúvio acabara. Deus,
homens e animais convivem e se entendem. Não existe uma sociedade, mas uma
cosmossociedade. A própria duração do dilúvio (quarenta dias) obedece a ritmos naturais,
como o das estações, dos períodos lunares, das enchentes, dos períodos críticos da vida
humana ou mesmo da gestação de animais ou do desenvolvimento dos vegetais.
Noé solta um corvo da arca para saber se o dilúvio acabara; a seguir, uma pomba;
sete dias depois (o número sete é também significativo) solta de novo a pomba e a recolhe
de volta com as mãos (símbolo carinhoso da relação homem-animal). Todos esses
pormenores são encontrados nas lendas do dilúvio referentes a vários povos antigos da
Ásia, da Europa e da América, entre os quais os índios brasileiros. Entre os índios do
México e da Nova Califórnia, por exemplo, Noé se chama Coxcox e a pomba é substituída
pelo colibri. Todos os Noés, seja o mesopotâmico, o grego, o mexicano, o celta (que se
chama Dwyfan e sua mulher Dwyfach), são avisados por Deus (naturalmente o Deus de
cada um desses povos) que estava irritado com a corrupção do gênero humano e manda o
seu escolhido construir urna arca.
Só mesmo uma ingenuidade excessiva poderia fazer-nos aceitar o relato bíblico do
dilúvio como uma realidade histórica ou divina. A lenda bíblica do dilúvio corresponde a
um mito dessa fase bem conhecida da História dos povos antigos, que é a fase mitológica.
Sua realidade não é histórica nem divina: é simplesmente alegórica. O dilúvio é uma lenda
que corresponde a um passado mitológico, comum a todos os povos.

31-0 LIVRO DOS ESPÍRITOS COMO SEQUÊNCIA NATURAL DA BÍBLIA

Este ano assinala o centésimo-décimo aniversário da publicação de O Livro dos
Espíritos1, de Allan Kardec, obra básica do Espiritismo. Porque foi precisamente a 18 de
abril de 1857, portanto há 110 anos exatos, que O Livro dos Espíritos apareceu em Paris,
dando início positivo à III Revelação do Cristianismo.
Por mais que os bíblicos literalistas contestem e que as religiões cristãs dogmáticas
protestem, há uma verdade que não se pode esconder: o Livro dos Espíritos é seqüência
histórica e desenvolvimento natural da Bíblia. Mesmo alguns espíritas não concordam com
isto. Mas, se atentassem melhor para a sua doutrina e examinassem o assunto à luz das
obras básicas da doutrina, compreenderiam a verdade. Kardec afirmou e demonstrou que o
Espiritismo é a continuação do Cristianismo. Veja-se o que ele escreveu a respeito da
introdução e no primeiro capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Veja-se a sua
teoria da Revelação no primeiro capítulo de A Gênese. E consulte-se o livro básico nos
pontos referentes ao problema.
A I Revelação do Cristianismo foi feita através de Moisés e dos Profetas e
codificada na Bíblia. Esta codificação anunciava a vinda do Messias e, portanto, outra
revelação. Cumprindo a profecia, a II Revelação veio com o Cristo e foi codificada nos
evangelhos. Mas esta codificação anunciava outra vinda, a do Espírito da Verdade, que se
manifestou a Kardec e deu-lhe os ensinamentos codificados em O Livro dos Espíritos. Esta
codificação é a da III Revelação, que não anuncia mais nenhuma, porque nela a Revelação
Cristã se completa, abrindo definitivamente as portas da mediunidade para o dialogo do
Visível com o Invisível. Estando as portas abertas, a Revelação Cristã flui naturalmente
daqui para diante, sem necessidade das divisões históricas do início. Por isso e para isso é
que o Espiritismo não se fecha numa estrutura dogmática e eclesiástica.
Kardec afirmou que o Espiritismo é a chave da Bíblia e dos Evangelhos. Todos os
que estudam este problema sem sujeição a dogmatismos e seitas, sabem que não se pode
compreender as duas codificações anteriores sem o auxílio da posterior. Porque a seqüência
histórica é também uma seqüência lógica. A Bíblia é a premissa maior do Cristianismo; os
Evangelhos são a premissa menor; O Livro dos Espíritos a conclusão. Essa a razão porque
Jesus prometeu que o Espírito da Verdade viria completar e restabelecer os seus ensinos.
Negar isto é negar o que ele mesmo disse, como vemos no Cap. XIV do Evangelho de
Lucas.

32 - O QUE FOI E Ó QUE É


O Espírito da Verdade esclarece o passado em função do presente, e este em função
do futuro - A compreensão espírita em face dos textos antigos e suas dificuldades.
A insistência de alguns confrades no combate ao "biblismo" no meio espírita tem o
seu lado louvável. Também é louvável a insistência dos que combatem o "evangelismo" de
tipo protestante, que parece invadir numerosos Centros. Todo apego aos velhos textos não
se justifica, diante dos novos, que nos foram legados por Kardec, sob a orientação do
Espírito da Verdade. O Espiritismo que se enfeita de exageros bíblicos ou evangélicos está
nas condições do remendo de pano novo, que se quer aplicar ao pano velho. Mas isso não
quer dizer, evidentemente, que se deva atirar ao lixo o pano velho.
Todo exagero é condenável, por conduzir infalivelmente ao erro. Consideramos,
portanto, errados em sua posição doutrinária, tanto os que condenam a Bíblia como pano
velho e imprestável, quanto os que a consideram como "a palavra de Deus". Kardec é o
primeiro a nos dar exemplo da atitude que devemos tomar em face da Bíblia. Basta-nos a
leitura dos seus livros, para compreendermos que ele não ia tanto ao mar, nem tanto à terra.
Nisso, como em tudo, sua atitude era sensata, equilibrada, serena, compreensiva e,
sobretudo, natural.
O espírita está de posse de uma doutrina que esclarece todos os problemas humanos,
que lança uma luz bastante clara sobre a história, e que exatamente por isso não lhe permite
atitudes extremadas. Ali onde os outros não vêem senão um aspecto, um lado da coisa
analisada, o espírita tem obrigação de ver mais, de enxergar mais fundo. No caso da Bíblia
e do Evangelho essa obrigação se torna ainda maior, pois essas duas codificações referentes
a duas revelações que antecederam a espírita, representam fases fundamentais da
preparação do Espiritismo. Temos o direito, e até mesmo dever, de analisar os textos
antigos. Mas não temos o direito de procurar destrui-los ou negá-los.
Pedra de Alicerce
Nada mais fácil do que encontrar erros históricos e contradições nos textos antigos.
Muita tinta e muito papel já se gastou com isso, principalmente no caso da Bíblia.
Mas nem a Bíblia, nem outros textos submetidos a esse processo de análise
agressiva, tiveram o seu prestígio diminuído, ou sequer arranhado. A força de livros como a
Bíblia não está no seu conteúdo racional, na sua coerência histórica ou na sua coerência
moral e religiosa. Está na tradição e no sopro espiritual que lhes impregnam as páginas.
O leitor da Bíblia repele as análises modernas como heréticas, e mais fundamente se
apega ao seu livro. O mesmo se dá com os textos evangélicos: quanto mais combatidos,
mais se impuseram no mundo. Porque todos esses textos foram feitos para falar mais ao
coração do que à razão, para despertar antes a alma do que a mente. E cumpriram e
cumprem a sua missão na terra, apesar de toda a incompreensão dos que os combatem.
Alguns intelectuais espíritas, e entre eles os meus prezados amigos Carlos
Imbassahy e Mário Cavalcanti de Melo1, representantes da "Escola de Niterói", que é uma
escola voltaireana de Espiritismo, entendem que precisamos acabar com o "biblismo" e o
"evangelismo" no meio espírita. Outros entendem, por outro lado que precisamos de mais
Bíblia e mais Evangelho.
Parece-me que são duas posições extremas, e por isso mesmo contrárias ao espírito
de compreensão da doutrina.
O Espiritismo nasceu cristão, fundamentado nos Evangelhos, como vemos desde O
Livro dos Espíritos, e tendo a Bíblia como o seu mais profundo fundamento, como a pedra
mais funda do seu alicerce. Está claro que a pedra do alicerce deve ficar ali, como base.
Mas, que podemos esperar, se começarmos a cavar a terra e ferir a pedra, com a intenção de
destruí-la?
Violência Anti-Bíblica
Diz o confrade Cavalcanti de Mello, em seu livro Da Bíblia aos nossos dias, página
311: "Pode ser que este livro, a Bíblia, servisse a um povo ignorante e inculto; mas, para
nós, em pleno século XX, está enquadrado entre os muitos contos infantis, como a estória
da Carochinha. E aqui ficamos, leitores, não querendo tocar mais nas imoralidades
consignadas no Velho Testamento e tão injustamente atribuídas a Jeová e a Moisés, numa
infâmia multimilenar, mantida pêlos ignorantes".
Já se viu maior violência? A Bíblia é considerada como uma "infâmia
multimilenar", e o que é pior, "mantida pêlos ignorantes". Todo leitor da Bíblia, portanto, é
ignorante, a menos que a leia para combater e negar. E todos os que contribuíram para que
se realizasse, há milênios, a codificação bíblica, nada mais foram do que infames e
infamantes.
A aceitarmos isso, teríamos de considerar ignorante o próprio Kardec, que se deu ao
trabalho de citar a Bíblia como a l Revelação. Além do mais, estaríamos negando o poder
de esclarecimento da doutrina espírita, cuja função não é somente aclarar o futuro, mas
também o passado e o presente.
No capítulo VIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, "Instruções dos
Espíritos", item 18, diz o espírito de João Evangelista: "Meus bem-amados, já estamos
naqueles tempos em que os erros explicados se transformam em verdade. Nós mostraremos
a correlação poderosa que une o que foi e o que é. Em verdade vos digo: a manifestação
espírita alarga os horizontes, e aqui está o seu enviado, que vai resplandecer como um sol
por cima dos montes".
A correlação poderosa
Essa é a atitude espírita em face dos textos antigos, especialmente da Bíblia e dos
evangelhos. Sabemos que são textos de um passado longínquo, e não podemos
sensatamente interpretá-los ou criticá-los como se tivessem sido escritos em nossos dias. A
manifestação espírita alarga os horizontes e nos faz enxergar além dos limites estreitos do
presente. Os Espíritos do Senhor se manifestaram e se manifestam para nos ajudarem a
transformar os erros em verdades, estabelecendo a correlação poderosa entre o que foi e o
que é. Querer negar o que foi, sustentar apenas o que é, parece-nos absurdo. É como querer
cortar uma árvore pelas raízes e esperar que ela continue a nos alimentar com seus frutos.
A Bíblia, como os Evangelhos e como outros textos religiosos da antiguidade, são
os marcos da evolução espiritual da Terra. É claro que não podemos encontrar num marco
praticamente inicial, como a Bíblia, a mesma pureza que vamos encontrar nos Evangelhos
ou na codificação espírita. Mas não é justo que condenemos aquilo que não
compreendemos hoje, e que representou um impulso e um valor no seu tempo, muito
distante de nós. Todos os espíritas conhecem a lei de evolução. Como, então, não
colocarmos a Bíblia em seu exato lugar, na evolução espiritual da Terra, e preferirmos
acusá-la de infâmias e imoralidades que só existem aos nossos olhos? Procuremos, antes,
como o fazia Kardec, estabelecer a "correlação poderosa" a que aludiu o espírito de João
Evangelista.

33 – A BIBLIA E O ESPIRITISMO

Há tempos, apareceu em São Paulo um livro intitulado Contradições Bíblicas, que
provocou certos rebuliços nos meios espíritas. Houve mesmo quem temesse pêlos efeitos
deletérios da obra. Fui dos que não lhe atribuíram nenhum valor, entendendo que nada se
podia temer de um ataque a esse livro que representa um monumento milenar da história
humana e um marco indelével na evolução espiritual da terra: a Bíblia. O tempo se
incumbiu, logo mais, de provar que eu estava com a razão. O livrinho acusatório passou
rapidamente ao esquecimento, e a Bíblia continuou a ser o que sempre foi.
Agora, aparece um livro melhor, escrito com mais cuidado, em bom português,
analisando o problema bíblico com um pouco mais de atenção. Mas a sua posição é a
mesma do anterior, sua finalidade é ainda apontar contradições no velho texto. Da Bíblia
aos nossos dias, do confrade Mário Cavalcanti de Mello, está provocando, também,
agitações no meio espírita. E não faltam os que lhe batam palmas, certos de que o livro
demolidor tem uma grande missão a cumprir. Não obstante, aparecem os que se opõem a
essa atitude antibíblica do confrade Cavalcanti de Mello, impedindo que a crítica ao livro se
generalize entre os nossos confrades pouco informados do assunto.
Sinto-me feliz de ter sido um dos primeiros a levantar a pena contra o livro do
confrade Cavalcanti de Mello, e de vir mantendo com ele uma polêmica serena e fraterna
em torno do problema, no jornal "Mundo Espírita". Penso que me cabe o dever de dar
alguma contribuição para o esclarecimento de um assunto de tamanha importância
doutrinária. E mais feliz ainda me senti, quando, ao abrir o último número da "Revista
Internacional de Espiritismo", encontrei o artigo do confrade Arnaldo S. Thiago, quem não
conheço pessoalmente, mas cujos trabalhos admiro há tempos, refutando as asserções um
tanto quentes do confrade Victor Magaldi, que em artigo anterior elogiara a obra.
Penso que nós, espíritas, temos o dever de analisar as coisas de maneira serena e
compreensiva, pois foi a lição de Kardec e esse é o espírito da nossa doutrina. Sim, porque
o Espiritismo não é uma doutrina dogmática, de postulados rígidos, mas uma doutrina
evolutiva e amplamente compreensiva, que procura entender a vida em todas as suas
manifestações, entendendo, portanto, o processo geral da evolução humana. Há espíritas
que condenam a Psicanálise, o Darwinismo, o Existencialismo, e outras doutrinas
científicas e filosóficas, numa atitude fechada de fanáticos religiosos, sem procurarem
compreender a razão de ser dessas doutrinas e o que elas representam no imenso esforço do
homem para interpretar o mundo e a vida. Há outros que condenam a Bíblia, como há os
que condenam os próprios Evangelhos, e ainda os que condenam o Cristianismo, afirmando
que o Espiritismo nada tem a ver com ele. Todas essas atitudes dogmáticas discordam
daquilo que chamamos o espírito da doutrina. O Espiritismo não condena: explica. E,
explicando, justifica os erros humanos, procurando corrigi-los pela compreensão e não pela
coação.
No tocante à Bíblia, é o que podemos ver em Kardec. A Bíblia é para ele um livro
de grande importância histórica, pois representa a codificação da I Revelação. A seguir,
vêm os Evangelhos, que são a codificação da II Revelação. E depois, como sabemos, O
Livro dos Espíritos e as obras que o completam, formando a codificação do Espiritismo.
Todo um processo histórico está representado nessa trilogia. Se o confrade Mário
Cavalcanti de Mello tivesse compreendido isso, em vez de escrever um livro demolidor,
aproveitaria o sugestivo título que usou, Da Bíblia aos nossos dias, para mostrar a beleza, a
harmonia e a grandeza dessa extraordinária seqüência das fases evolutivas da humanidade
terrena.
Citemos um trecho esclarecedor de Kardec em A Gênese. Trata-se do número 6 do
capítulo quatro: "A Bíblia, evidentemente, encerra fatos que a razão, desenvolvida pela
ciência, não poderia hoje aceitar, e outros que parecem estranhos e derivam de costumes
que já não são os nossos. Mas, a par disso, haveria parcialidade em se não reconhecer que
ela encerra grandes e belas coisas. A alegoria ocupa, ali, considerável espaço, ocultando
sob o seu véu sublimes verdades, que se patenteiam, desde que se desça ao âmago do
pensamento, pois logo desaparece o absurdo".
Nada se pode querer de mais claro, mais preciso e mais belo. Kardec revela a mais
serena e elevada compreensão da Bíblia, e essa deve ser a nossa compreensão de espíritas
em face do grande livro. O confrade Cavalcanti de Mello, que conheço e admiro, partiu de
uma premissa falsa, ao escrever a sua obra de crítica bíblica. Sua intenção, cuja pureza
reconheço e louvo, foi a de defender o Espiritismo contra o fanatismo bíblico. Mas mesmo
nesse terreno a posição de ataque não pode surtir efeito, pois os que se apegam à Bíblia só
poderão revoltar-se com a crítica ferina e impiedosa do grande livro. Partisse da idéia de
que a Bíblia é a codificação da l Revelação, o livro que encerra, na sua linguagem
dramática e alegórica, milenares experiências do homem na procura da Verdade e do Bem,
e chegaria facilmente à conclusão de que é um livro do passado, que os Evangelhos e o
Espiritismo superaram.
Não se entenda, porém, que falando de superação, - do ponto de vista histórico, -
esteja eu endossando a afirmação de que a Bíblia é objeto de museu. Não. A Bíblia, como
todos os grandes textos que encerram verdades reveladas, é um monumento imperecível.
Como bem disse Kardec, os que souberem levantar os véus da alegoria encontrarão na
Bíblia os mesmos e eternos princípios esclarecidos mais tarde por Jesus e pelo Espírito da
Verdade. As matanças, os horrores, as imoralidades que o confrade Cavalcanti de Mello
aponta na Bíblia, não são mais do que decorrências lógicas e naturais da época a que o livro
se refere. É um pouco de exagero, querermos condenar hoje os costumes de tempos tão
distantes.
Tenho dito e repetido, em meus artigos de polêmica doutrinária com os confrades da
Escola de Niterói, - Imbassahy e Cavalcanti de Mello -, que lhes falta perspectiva histórica
no exame dos problemas religiosos do Espiritismo. E a prova disso está aí, bem clara, no
livro Da Bíblia aos nossos dias. Um pouco de perspectiva histórica teria modificado
radicalmente a posição do confrade Mário Cavalcanti de Mello em face da Bíblia. Queira
Deus que, no meio espírita, já tão cheio de incompreensões e confusões, este livro,
fundamentalmente errado, não venha criar uma nova escola, absolutamente contrária ao
espírito da nossa doutrina.

34 - ARGUMENTOS VERSUS CITAÇÕES


Duas posições numa polêmica sobre a Bíblia - Das "palavras vazias" à avalancha de
versículos - A posição de Kardec: a Bíblia não é um erro, os homens é que se equivocam ao
interpretá-la - Do pingue-pongue das citações ao esclarecimento do problema.
Quem leu o artigo do prezado confrade Mário Cavalcanti de Mello,
"Esclarecimentos Necessários", publicado na última edição de "Mundo Espírita", sem ter
lido os meus artigos anteriores, a que aquele se refere, há de ter pensado que andei fazendo
demonstrações retóricas neste jornal, ao tratar do problema bíblico em face do Espiritismo.
O meu caro antagonista chegou a declarar, com todas as letras, que eu somente escrevi: "até
hoje, coisas vazias e sem consistência". Louva-se o confrade Cavalcanti no seu sistema de
citações do texto bíblico, e entendo que o meu dever é refutá-lo "com a Bíblia na mão".
Desde o meu primeiro artigo, entretanto, deixei claro que não me interessava, como
não pode interessar-me, um simples bate-boca no estilo de "a Bíblia disse" e "a Bíblia não
disse". Por que isto seria a coisa mais estéril do mundo. Afinal de contas, nem eu, nem o
meu caro confrade, somos teólogos ou discutidores de sacristia. O que me interessa, e o que
penso que deve interessar aos confrades que se derem ao trabalho de acompanhar esta
polêmica, é apenas saber se a Bíblia é um livro falso e sem sentido, ou se realmente é,
como Kardec no-la apresentou, o monumento imperecível da I Revelação.
É claro que não custa ao confrade Cavalcanti, como não custaria a mim ou qualquer
outro, tomar um volume da Bíblia, folheá-lo numa hora de calma e copiar de suas páginas
os trechos que mais interessassem aos nossos pontos de vista, para com eles
bombardearmos a boa fé dos leitores. A Bíblia está aí, por toda parte, ao alcance de todos.
Quando o confrade Cavalcanti diz que em tal passagem bíblica existe tal coisa, me parece
que ninguém porá em dúvida a sua afirmação. Nem eu pretendi, a qualquer momento, negar
os morticínios de que a Bíblia está cheia. Bem vazio seria, ou bem louco, se o pretendesse,
pois qualquer cidadão poderia pegar na estante o seu volume da Bíblia e ver com os
próprios olhos que eu estava fraudando ou desconhecendo por completo o assunto em
causa.
Não se trata, pois, de alinhavar textos. Esse alinhavo o confrade já fez, até em
excesso, no seu livro Da Bíblia aos nossos dias e nos artigos publicados neste jornal.
Quando dei a minha primeira opinião sobre o livro do confrade, - uma simples e pequenina
resposta a um leitor, na minha seção do "Diário de S. Paulo", - não tive a intenção de fazer
polêmica. Fui breve e incisivo. Disse o que pensava do livro, cumprindo um dever a que
não podia fugir: o de responder ao leitor. O confrade Cavalcanti aborreceu-se com a minha
franqueza e despejou sobre a minha cabeça atônita uma avalancha de citações bíblicas e de
opiniões eruditas sobre a Bíblia. Respondi, tentando colocar as coisas nos seus devidos
lugares. E depois, quando nos encontramos em Niterói, pessoalmente procurei, de novo,
colocar o problema. Foi então que o confrade me fez aquela promessa que eu cobrei num
dos meus últimos artigos: o de não fugir da arena. Mas como, logo em seguida, voltou a se
embarafustar pelo labirinto das citações bíblicas, senti-me no direito de lhe pedir que não
saísse do terreno escolhido. Vejo, agora, que havia um equívoco em tudo isso. Enquanto eu
pensava que o confrade queria discutir o problema bíblico em seu aspecto global e
doutrinário, o confrade pensava que eu o desafiava para um pingue-pongue de citações
bíblicas.
Esclarecendo o equívoco, só tenho a declarar que para isso não me presto. Nunca fui
bom nessas competições. Não conheço os golpes e contragolpes que dão a palma da vitória
aos jogadores inveterados de bolinhas e raquetes. Mas, se o confrade quiser continuar
discutindo o assunto em seus aspectos essenciais, então estarei às suas ordens. Vamos,
entretanto, para que as coisas fiquem suficientemente claras, procurar situar o problema.
Significação e importância da Bíblia
O que refuto, no livro do confrade Cavalcanti de Mello, não são as citações bíblicas,
mas a sua concepção da Bíblia. Como se pode ver até mesmo pelo seu último artigo, o
confrade quer provar que a Bíblia é um livro falso, forjado por espertalhões. Essa
concepção é antiespírita, como já o demonstrei, em meus artigos anteriores, com citações
textuais de Kardec. O codificador jamais pensou semelhante coisa da Bíblia. Desde O Livro
dos Espíritos, o codificador sustentou a necessidade de uma interpretação compreensiva da
Bíblia. Lá encontramos, por exemplo, no capítulo terceiro da I Parte, número 59, em
"Considerações e concordâncias bíblicas relativas à criação", uma excelente lição de
interpretação bíblica, e esta advertência sempre oportuna: "Deve-se concluir que a Bíblia é
um erro? Não; mas que os homens se equivocaram ao interpretá-la". Para que não haja
dúvidas a respeito, verifiquemos o texto original, na edição francesa do "Griffon D'Or", de
1947, à página 88: "Faut-il en conclure que la Bible est une erreur? Nun; mais que lês
hommes se sent trompés em 1'interprétant".
Esta foi sempre a posição de Kardec. Sabemos todos que o codificador não gostava
de se contradizer, nem de fazer afirmativas levianas. O confrade Cavalcanti de Mello
respondeu-me que Kardec havia usado de diplomacia, ao que lhe retruquei, lembrando a
seriedade do codificador, que nunca usou de artimanhas, diplomáticas ou não, em assuntos
de tão grande importância. Nos livros subseqüentes da codificação, essa posição de Kardec
não somente se reafirma, como se esclarece. Foi o que demonstrei, por exemplo, citando o
trecho de A Gênese em que Kardec fala da necessidade de descermos "ao âmago do
pensamento", para compreendermos os absurdos aparentes do texto bíblico. Mas o confrade
Cavalcanti de Mello não pensa assim. E apanha frases de Kardec, que lhe parecem
contradizer aquela sensata e firme do codificador, para querer convencer-nos de que a razão
está do seu lado.
Não digo aqui, nem o disse jamais, que o confrade Cavalcanti tivesse feito tal coisa
de má fé. Longe de mim semelhante propósito. Acho apenas que o confrade está
demasiadamente empolgado pelas idéias que esposou, a ponto de não ver o conjunto da
opinião de Kardec, vendo apenas as partes da mesma que lhe interessam. E disso dei um
exemplo, quando mostrei que o confrade, à página 31 do seu livro, transcreveu todo um
trecho do A Gênese e o interpretou a seu modo, sem ver uma pequena ressalva feita no
meio da frase pelo codificador. Kardec diz ali que a ciência demonstrou
"inquestionavelmente os erros da gênese mosaica", o que agradou muito ao confrade. Mas
Kardec acrescenta: "tomada ao pé da letra", e o confrade não viu nem ouviu isso.
Contentou-se tanto com a primeira parte, que nem sequer ligou à segunda, de fundamental
importância. Além disso, como todos sabem, Kardec apresenta o Espiritismo como o
Consolador prometido por Jesus, dando-lhe a expressiva e justa designação de Terceira
Revelação. Terceira por que? Porque houve uma Primeira Revelação, feita a Moisés, e
representada pela Bíblia, e uma Segunda Revelação, feita por Jesus e representada pêlos
Evangelhos e a do Espiritismo. Como admitir-se que Kardec pusesse uma pedra falsa como
fundamento do edifício das Três Revelações? Como admitir que ele pudesse usar de
"diplomacia", ou seja, de artimanhas diplomáticas, para impingir ao mundo o Espiritismo?
Que nos perdoe o confrade Cavalcanti de Mello, mas a sua posição, nesse problema, é
simplesmente insustentável. Por mais citações bíblicas que o confrade pretenda fazer,
jamais conseguirá provar, aos estudiosos desapaixonados, que Kardec pensava da Bíblia o
que está escrito no seu livro por nós contestado. A Bíblia significa, para o Espiritismo,
segundo a opinião de Kardec, de Léon Denis, e de tantos outros espíritas do Brasil e do
mundo, um livro básico, cheio de verdades sublimes, de que até mesmo Jesus se serviu para
a sua pregação do Reino. Verdadeiro monumento literário de um passado longínquo,
representa um marco indelével da evolução espiritual do homem. Pouco nos importa que o
Pentateuco tenha sido escrito por Moisés ou Hilquias, ou que os vários livros da Bíblia
estejam repletos de episódios sangrentos e mesmo de relatos de coisas imorais. Esses
episódios e esses relatos se referem a um passado de milhares de anos, e são, por si
mesmos, testemunhos escritos da evolução humana. Muitos deles são alegóricos, como
advertiu Kardec, e se hoje nos causam espanto, ontem serviam para despertar consciências.
O confrade Cavalcanti de Mello analisa a Bíblia como se analisasse um livro dos nossos
dias, esquecido, como já afirmei numerosas vezes aqui, de que se trata de um velho
monumento, de um marco representativo de outras eras e de outra maneira de ver, de
pensar e de dizer as coisas. Kardec chama a atenção dos ledores da Bíblia para a
necessidade de se ter em conta "a forma alegórica peculiar ao estilo oriental". Entretanto,
vem o confrade Cavalcanti e me diz que posso "resolver as tradições obscuras de todos os
povos", que não encontrarei "coisas tão tristes, tão degradantes e tão profundamente
desmoralizantes", como as que se encontram na Bíblia. Ora, parece-nos que, nesse caso,
quem está sendo desmentido não sou eu, mas Kardec. E não somente ele, mas todos os
orientalistas. Porque coisas tristes, degradantes e desmoralizadoras, segundo o nosso
conceito, encontram-se também nos livros bramânicos, nos textos persas, nos islâmicos e
outros. Mas o que importa, como acentua Kardec, é "descer ao âmago do pensamento", é
não nos deixarmos prender pelas aparências.
Que diria o confrade, se soubesse, por exemplo, que os famosos "Rubaiyat", de
Ornar Khayyam, geralmente interpretados entre nós como céticos e libertinos, são
considerados no Oriente, segundo o testemunho de B. Nicolas, que viveu muitos anos na
Pérsia, como versos místicos-alegóricos? Khayyam, que nunca fora, aliás, um libertino,
mas um homem de pensamento, um astrónomo e um místico, aparece ali como uma espécie
de profeta, ensinando a mais alta moral. Almansur Haddad afirma, ainda agora, em recente
edição dos Rubaiyat, que: "A significação ascético-mística da poesia de Ornar Khayyam é a
habitualmente aceita na Pérsia". E essa edição, da Bolsa do Livro, de São Paulo, traz um
prefácio do sr. Yadollah Azodi, ministro do Ira no Brasil, que declara o seguinte: "Temos
nos "Rubaiyat" um livro de profecias, um catecismo filosófico, um invólucro de sabedoria".
Veja o confrade Cavalcanti de Mello como Kardec tinha razão, ao advertir que
precisamos ler a Bíblia com "olhos de ver". Os cânticos de Salomão, como as matanças e as
imoralidades que o confrade não se cansa de ver e citar, no texto bíblico, não têm sentido
absurdo que a nossa malícia lhes atribui. Os tempos são outros. Os costumes mudaram. A
maneira de ver e de exprimir as coisas transformou-se profundamente. Não podemos acusar
de embusteiros, e espertalhões, e malandros, os homens que, inspirados pêlos melhores
propósitos, realizaram, há milhares de anos, a codificação bíblica. Devemos um pouco mais
de respeito a essa gente e às suas intenções. E nós, espíritas, mais do que quaisquer outros,
estamos no dever de compreender essas coisas, porque conhecemos o processo complexo
da evolução humana, em todos os seus aspectos.
O erro dos homens
A diferença fundamental entre a posição do confrade Cavalcanti e a posição de
Kardec é a seguinte: este condena o erro da interpretação da Bíblia pêlos homens, enquanto
aquele condena a própria Bíblia como um erro. É isso o que eu discordo no livro do
confrade Cavalcanti. A frase de Kardec, no Livro dos Espíritos, que acima transcrevemos, é
suficiente para mostrar o que dissemos. Kardec afirma, de maneira incisiva, que a Bíblia
não é um erro, mas que o erro está na interpretação da Bíblia pêlos homens. O confrade
Cavalcanti, pelo contrário, quer provar que a Bíblia é um livro falso, escrito por farsantes. E
pensa, mesmo, que já o provou!
Curioso verificar-se como o confrade repisa textos de Kardec sem os compreender,
tirando do mesmo apenas o que convém à sua tese. Ainda neste último artigo vem a
reprodução textual daquele belo trecho de A Gênese, em que Kardec aconselhou: "Não
rejeitemos, pois, a gênese bíblica; pelo contrário, estudemo-la, como se estuda a história da
infância dos povos. É ela uma espécie rica de alegorias, cujo sentido oculto é preciso
procurar, comentar e explicar, por meio das luzes da razão e da ciência". A transcrição
prossegue, para depois o confrade afirmar que está de acordo com ela ao combater "os erros
da gênese bíblica". Faltou, ainda uma vez, a ressalva de Kardec: "interpretado ao pé da
letra". Porque o confrade só está de acordo com Kardec, nesse terreno, quando põe de lado
essa ressalva. E no entanto, sou eu o acusado de malabarismo intelectual! Mas não se pense
que desejo devolver a acusação. Pelo contrário. Não ponho em dúvida a sinceridade do
confrade. O que penso é que ele se encontra demasiado empolgado pelas suas idéias, a
ponto de não enxergar em Kardec tudo quanto as contradiz.
Compreendo que o confrade queira combater o apego de certas religiões ao texto
bíblico, à letra que mata. Mas não compreendo como, para fazer isso, ache necessário
colocar o Espiritismo numa posição tão incômoda diante da Bíblia. Todo espírita
suficientemente conhecedor da sua doutrina sabe que não deve emaranhar-se nos velhos
textos. Mas sabe, também, que não pode aceitar as tentativas materialistas desses textos, em
que tanto se apóia o confrade Cavalcanti de Mello.
Há um abismo entre a aceitação dogmática da Bíblia e a sua rejeição erudita,
baseada em pesquisas e interpretações formais do texto, realizadas por homens sem a
devida formação espiritual. Mas no meio desse abismo existe um caminho seguro, que é o
traçado por Kardec: o caminho da interpretação compreensiva, da interpretação sem apego
e sem prevenção. Esse é o único caminho verdadeiramente espírita, e pesa-me que o
confrade Cavalcanti não o tenha trilhado.

Visão Espírita da Bíblia J. Herculano Pires

Não era minha intenção estender-me tanto no presente artigo. Mas o confrade me
fez tais acusações, que me vi obrigado a repisar alguns assuntos, e a demorar-me demasiado
em outros. Que os leitores de Mundo Espírita me perdoem este excesso. Às avalanchas de
citações bíblicas do meu prezado opositor, vime obrigado a opor uma avalancha de
argumentos. Peço a Deus que o confrade Cavalcanti não considere todos estes argumentos
como palavras vazias, pois estou convencido de que eles contêm alguma coisa. Não
contêm, em verdade, desmentidos às citações do confrade, pois jamais pretendi duvidar das
mesmas. Com boa vontade, porém, é possível que o confrade vislumbre, nestas linhas, o
desejo de colocar o problema bíblico em termos de compreensão geral, e não de estéril e
infindável discussão das misérias do texto. Emmanuel, nesse belo livro que é O
Consolador, reafirma, em poucas linhas, de uma clareza admirável, a posição de Kardec, ou
seja, a posição do Espiritismo em face da Bíblia. É pena que o confrade Cavalcanti não
tenha lido as respostas de Emmanuel a respeito do assunto, antes de se abalançar à difícil
tarefa de mostrar que os espíritas devem encarar a Bíblia como uma simples manobra de
espertalhões judeus. Por mais teimosos que sejamos, um raio de luz das esferas mais altas
sempre nos faz bem.
POSFÁCIO
Você, amigo leitor, acabou de ler uma obra, que sem dúvida, enobrece a Literatura
Espírita. Queremos crer que gostou do que leu e admirou a maneira como o professor J.
Herculano Pires conduziu sua argumentação a favor da Bíblia. Além de tudo, ele deu uma
preciosa aula de como se deve fazer uma crítica literária. Em momento algum foi grosseiro,
ou agressivo. Tratou o opositor com respeito e dignidade, buscando convencê-lo de que os
espíritas, se não devem cultuar a Bíblia, também não devem enxovalhá-la como fez o
opositor em seu livro Da Bíblia aos nossos Dias, dizendo que a Bíblia é uma farsa. Ora,
como afirma o professor, não foi isso que Kardec nos ensinou. Kardec vê o assunto por
outro prisma e diz que o que está errado é a interpretação que os homens dão a ela e
aconselha: não combatamos a Bíblia, estudemo-la, porque a sua força não está nos detalhes
que podem não nos convencer, mas no fato dela ser a primeira Revelação dada a Moisés. A
Segunda Revelação foi trazida por Jesus e é representada pelos Evangelhos. A Terceira
chegou até nós, conforme promessa do próprio Jesus, através do Espírito da Verdade. Por
conseguinte vemos que tudo se encadeia e cada coisa deve ser observada dentro do seu
tempo e espaço. É o caso da Bíblia e de outros escritos da Antiguidade. São textos
históricos, mas não isentos de incongruências aos olhos do homem hoje já burilado pela
ciência. Nós espíritas devemos ficar com Kardec que disse: "os que souberem levantar o
véu da alegoria encontrarão na Bíblia os mesmos e eternos princípios esclarecidos mais
tarde por Jesus e pelo Espírito da Verdade. O professor como sempre o fez, primou pela
fidelidade a Allan Kardec. É por isso que dizem que ele foi o melhor metro que mediu o
mestre de Lion. Que falta faz hoje um líder dessa envergadura. Que me perdoem os
expoentes do movimento espírita, mas não vejo ninguém na atual idade com a vocação
kardequiana e a garra do professor Herculano Pires. E aproveito a ocasião para dizer que a
Bibliografia desse autêntico líder é composta de 88 obras. Entre as quais, Edições Correio
Fraterno teve a felicidade de publicar as seguintes: "O Homem Novo", uma coletânea de
crônicas que Herculano Pires publicou, primeiramente, no extinto jornal "Diário de São
Paulo", com o pseudônimo de Irmão Saulo. A tônica dessas crônicas é esclarecer sobre o
que é e o que não é correio dentro do movimento espírita preocupação sempre constante
nesse autor; "Infinito e o Finito", em que o filósofo Herculano Pires brinca com as palavras
e vai construindo com elas magnas lições como essas: "Deus é infinito. Nós somos finitos";
"Deus é o Ser dos seres..." "O homem é o ser entre os seres, pequenina criatura apegada à
crosta..."; "O Mistério do Bem e do Mal", 45 crônicas que a pena do professor Herculano
Pires vasou com o propósito de esclarecer o seu leitor como é vista essa dicotomia à luz da
Doutrina dos Espíritos; "Educação para a Morte", um verdadeiro manual de vida, pois o
professor Herculano pouco fala de morte, pelo contrário, ele nos ensina nesta obra a viver
com sabedoria para vencermos a morte e possamos dizer, no futuro, como fez Paulo de
Tarso: "Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?".
Um marco parisiano.
Nos momentos mais importantes e mais difíceis para o Espiritismo no Brasil, o
nobre professor sempre esteve presente. Foi ele, por exemplo, que sustentou a luta contra a
tradução para a língua portuguesa do Evangelho Segundo o Espiritismo, feita por Paulo
Alves de Godoy, publicada pela Federação Espírita do Estado de São Paulo, tendo mesmo
solicitado o recolhimento da edição em virtude de enxertos indevidos. A FEESP ouvindo-o,
até hoje não publicou a segunda edição. Obrigado professor!
Cirso Santiago